É repórter especial. Na Folha desde 1992, foi repórter, editor, correspondente, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasília. Escreve às quartas.
Estancada ou não, Lava Jato promete ser grande eleitora no ano que vem
Pedro Ladeira - 20.nov.2017/Folhapress | ||
O diretor da PF, Fernando Segovia, cumprimenta o antecessor, Leandro Daiello, sob aplauso de Temer |
Nos fumos decorrentes do incêndio nas fundações políticas brasileiras, em curso livre desde 2013 mas de origem bem mais distante no tempo, uma das poucas coisas discerníveis foi a ascensão do fator Lava Jato como régua para a elegibilidade de um candidato.
Se você duvida, veja Aécio Neves. De líder inconteste do tucanato em 2014, quase eleito presidente com 50 milhões de votos, aplaudido por onde passava, o senador mineiro após ser gravado no caso JBS parece um daqueles robozinhos que monitoram o que sobrou da usina nuclear de Fukushima -radioativo ao ponto da inutilidade, no caso eleitoral.
Ressalta-se, claro, o caráter eleitoral, já que politicamente ele segue bem ativo e ajudando a construir o dissenso que ameaça trincar o PSDB de vez. A marca de ferro quente da Lava Jato, de forma justa ou não, seguiu firme como selo de qualidade para a embalagem de candidatos.
Voltemos ao novembro de 2017, com o governo Temer aparentemente com sua vida garantida até o fim. Como em qualquer discussão política nos dias de hoje, o campo está dividido em duas leituras:
1 - A sangria citada por Romero Jucá sendo estancada por uma combinação funesta de revisões judiciais no STF, trocas de comando no Ministério Público Federal e na PF, além do estrangulamento financeiro de operações. O acordão é pluripartidário: vai do PT de Lula, o magnânimo que perdoa golpistas, ao PMDB que namora o partido do qual foi algoz. Para completar, há fastio popular evidente com a sucessão de escândalos.
2 - A Lava Jato ganhou uma organicidade que a torna impenetrável. Como é uma hidra com muitas cabeças, mesmo o corte de algumas das principais não conseguirá ao fim impedir que ela siga seu curso. A infindável dissecação do cadáver do Rio após sucumbir à turma de Cabral seria prova cabal disso, além dos exemplos pontuais do PT, de Aécio e companhia. Uma delação mais substanciosa é capaz de atomizar nomes estabelecidos há décadas.
Como é dispensável explicar, misture as duas concepções, bata e coe os exageros e imprecisões. Há verdade num enunciado que una tudo isso, mas a fala do novo diretor da PF, Fernando Segovia, sapecando críticas ao Ministério Público e dando o benefício da dúvida à mala do caso JBS atiça de sobremaneira os aderentes da primeira explicação.
Segovia foi infeliz, para ser gentil com o doutor. No ambiente atual, sua fala equivaleu a um agrado ao chefe. Não que estivesse exatamente errado: se tem uma coisa que ajudou a aplicar hemostáticos nas feridas abertas pela Lava Jato foi justamente ocomportamento açodado, novamente apelando à gentileza, de Rodrigo Janot. Mas é preciso ressaltar que a mesma PF corroborou a conclusão da PGR no caso, o que pode sugerir divergências ainda inauditas.
Assim, será preciso acompanhar os próximos passos da Lava Jato para saber se a resultante das duas sentenças acima está pendendo mais para um lado ou mais para outro. Mas é possível inferir algumas coisas, em especial se as pesquisas nas mãos dos bruxos do marketing que ressaltam a força da marca Lava Jato e/ou Ficha Limpa estiverem corretas.
Duas se sobressaem, dado o atual cenário desértico de lideranças do campo governista e adjacências. A primeira é imediatista: a busca pela novidade com "punch" eleitoral, um esforço especulativo que vai de Luciano Huck a João Doria fora do PSDB. A segunda é a volta do balão de ensaio Joaquim Barbosa numa composição com Marina Silva em sua vice.
As combinações são todas muito diferentes, em especial porque só tempo de TV, Fundo Partidário e alianças estaduais são infalíveis como armas para um novato. E PPS, PSB e Rede não os têm, para ficar na leitura simplória. Mas e se algum dos nomes no mercado disparar para uns 15% no começo do ano? A máquina se adapta.
Enquanto isso, Geraldo Alckmin enfim se mexe em público, como a visita ao feudo dos Campos no fim de semana provou. Se consolidar o PSDB, incerto mas provável, será um polo de atração grande -caciques da sigla já contam algo como quase 10 minutos mesmo sem o PMDB no barco. E parece algo imune à Lava Jato, já que as citações laterais ficaram por isso até aqui.
O que parece líquido é: com ou sem sangria, a Lava Jato segue eleitora importante em 2018.
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