Jaime Spitzcovsky

Jornalista, foi correspondente da Folha em Moscou e Pequim.

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Jaime Spitzcovsky

Diálogo segue como única opção para solucionar conflito israelo-palestino

Sophia Loren planeja, em novembro, desembarcar em Israel. A atriz italiana visitou o país várias vezes, e, no próximo episódio, protagonizará encontros com críticos e fãs, para uma espécie de balanço de carreira.

Ao longo de anos, por suas posições políticas, Loren frequentou listas de boicotes arregimentadas por organizações anti-israelenses, numa iniciativa usada, por exemplo, em 1945, três anos antes da independência de Israel, quando a Liga Árabe preconizou isolar estruturas econômicas do então embrionário Estado judeu.

As trajetórias de Sophia Loren e de Israel escancaram o fracasso da estratégia baseada em isolamentos forçados, ressuscitada nos últimos anos sob a sigla BDS (boicote, desinvestimento, sanções).

A saída, portanto, reside em seguir investindo no diálogo, e não no boicote a um dos personagens da contenda. A explosão de outros conflitos no Oriente Médio, como o da Síria, retirou holofotes do tema israelo-palestino, mas não eliminou tentativas de negociações.

Nesse campo, saiu de Moscou a mais recente aposta. Para lucrar diplomaticamente, Vladimir Putin anunciou, sem precisar data, encontro na capital russa entre Binyamin Netanyahu e Mahmoud Abbas, que reagiram com cautela à proposta com potencial para resgatar o processo de paz da estagnação.

Depois de negociar um cessar-fogo na Síria, Vladimir Putin deseja enfileirar mais uma ação russa pelo diálogo, para enfatizar a disposição de trabalhar também em canais diplomáticos e não somente por meio de pressões belicosas, como na crise com a vizinha Ucrânia ou a própria intervenção militar no conflito sírio.

A iniciativa de Moscou ainda enterra projeto anunciado pela França há cerca de três meses, de realizar uma conferência internacional para o Oriente Médio.

Hollande arquitetou o plano de olho na política doméstica. No próximo ano, haverá eleição presidencial na França. Os ataques terroristas e as consequentes medidas de segurança, as reformas liberalizantes para reaquecer a economia e o fortalecimento da populista Marine Le Pen fizeram o socialista Hollande assumir agendas mais à direita.

As concessões irritaram parte da sua base de apoio. Para apaziguá-la, o presidente resgatou a questão israelo-palestina, responsável por hipnotizar, nas últimas décadas, setores da esquerda obcecados em ver o tema como o principal da agenda global. Hollande esperava eletrizar socialistas com a ideia de capitanear um processo de criação do Estado palestino.

Mas a estratégia fracassou por falta de apoio internacional. Houve, ainda, ataques terroristas na França, em julho, que tiraram o foco de alguns projetos diplomáticos de Paris.

Saiu a iniciativa de Hollande, entrou a de Putin. E Barack Obama não descarta, antes de deixar a Casa Branca, fazer um discurso impactante sobre a necessidade de acordo entre israelenses e palestinos.

Olhando em retrospectiva, fica difícil alimentar otimismo com as negociações. Mas a via do diálogo, apesar dos incontáveis fracassos, permanece como a única, ainda que difícil, alternativa.

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