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janio de freitas

 

05/07/2012 - 03h00

O preço da salada

A salada de partidos que o PT produziu com seus acordos eleitorais pelo país afora, sem critério algum, mais o enfraquece do que o fortalece. As estimativas preliminares indicam a tendência de que o PT dificilmente manterá seu atual comando em muitas prefeituras e Câmaras Municipais. Mas o maior efeito desse enfraquecimento deverá recair sobre as eleições de governos estaduais, com reflexos no quadro da disputa pela Presidência também em 2014.

Adotada como orientação petista desde o primeiro mandato de Lula, a tática das alianças a granel obrigou a concessões e à entrega de nacos do poder que fortaleceram os integrantes dos arranjos, em detrimento do próprio PT. E os estimularam a passar, em grande parte das disputas municipais e dos projetos para 2014, de aliados a possíveis concorrentes.

Nesse sentido, o PSB é o exemplo quase perfeito. Seu intenso fortalecimento nos últimos anos, ampliado pela habilidade do governador pernambucano Eduardo Campos para aproveitar a aliança com o PT, já o torna um problema eleitoral e político para o petismo, para Lula e para Dilma Rousseff.

No Recife, área de longo domínio petista, o governador e o seu PSB derrotaram a articulação tentada por Lula para preservar o quadro atual. Com mais passos individualistas do PSB em outros municípios, os petistas já têm a percepção de que Eduardo Campos e seus correligionários serão um problema na eleição presidencial. Seja por alimentar pretensões próprias ou pelo custo exigido para reproduzir as alianças com Lula e Dilma.

Outro caso exemplar consumou-se ontem. Este, em Minas, onde o PT enrolou-se até em si mesmo. Afinal, conseguiu apresentar o ex-prefeito Patrus Ananias como candidato à Prefeitura de Belo Horizonte. Mas a consolidação das perspectivas só veio na última hora, com a entrada firme do vice-presidente Michel Temer para acabar com a candidatura do PMDB e aliar o partido ao PT.

A conduta sóbria de Temer como vice-presidente encobre sua expressiva contribuição para o governo Dilma e para a própria presidente. Ação reconhecida e declarada por ela. A cada uma de suas participações, frequentes na solução de embaraços do governo na Câmara e no Senado, Temer cresce no PMDB que preside.

E no PMDB cresce a pouco citada e muito difundida pretensão de um candidato próprio à Presidência.

No mínimo, portanto, o fortalecimento peemedebista representará um custo altíssimo para seu possível apoio à candidatura presidencial do PT.

A hipótese hoje especulada, por exemplo, de descolar Michel Temer e negociar a vice com Eduardo Campos, para atrair o PSB, vai ficando cada vez mais difícil.
Em outra escala, partidos menores da "aliança" atual também têm ganhos em relação ao PT e seus candidatos.

Como se viu em São Paulo e se vê em Fortaleza, entre outros numerosos casos. Nos quais o vale-tudo ensina que seus efeitos não estão só no lucro imediato. Nem são apenas favoráveis.
Sua cobrança pode ser lenta, mas, diferentemente da justiça, chega mesmo.

janio de freitas

Janio de Freitas, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa com perspicácia e ousadia as questões políticas e econômicas. Escreve aos domingos, terças e quintas-feiras.

 

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