É economista formado pelo Insper e mestre em filosofia pela USP. É palestrante ativo do movimento liberal brasileiro. Escreve às terças.
Os candidatos não dizem o óbvio: o dinheiro acabou
Reinaldo Canato/UOL | ||
Os candidatos a prefeito em São Paulo |
A eleição de 2016 se federalizou. Difícil discutir problemas locais quando diariamente as notícias nos levam ao nacional. Em alguns casos, isso é positivo. Independentemente de sua opinião sobre o impeachment, a queda de Dilma nos deixa uma lição universal: a responsabilidade fiscal importa. Não há criatividade contábil que cancele as consequências de se gastar além do sustentável. A lição deveria ser clara: viver dentro dos meios disponíveis não é prerrogativa da direita ou da esquerda; é pré-condição para qualquer governo levar adiante sua visão, seja ela qual for.
Dito de outra forma: propor mais hospitais ou mais creches não é mérito, se isso vem à custa das contas públicas e inviabiliza o futuro da cidade. O mérito está em fazer mais –entregar resultados melhores– com a mesma quantidade de recursos; e, se possível, com menos.
Poucas vozes ecoam esse amadurecimento. São Paulo talvez fuja um pouco à regra, mas, mesmo aqui, a aceitação da necessidade de equilibrar as contas é relativa. O prefeito Fernando Haddad (PT) vem com um resultado fiscal positivo por ter renegociado a dívida da cidade com a União. Sua campanha, contudo, segue a linha tradicional de prometer mais creches, mais hospitais, mais CEUs, mais faculdades, aumentando o deficit orçamentário.
João Doria (PSDB) adota o mantra da melhora de gestão como solução para evitar o corte de gastos; sem maiores detalhes, essa parece uma solução mágica.
Apenas a campanha de Ricardo Young (Rede) se mostra sensível à necessidade de controlar despesas, preferindo estudar e aprimorar soluções existentes –por exemplo, à demanda por creches– a propor novos programas.
No Rio de Janeiro, Carmen Migueles (Novo) é a única candidata que diz abertamente não prometer mais hospitais ou creches. Ela transformou o "fazer mais com menos" em verdadeiro mote de campanha. Em Porto Alegre, Fábio Ostermann (PSL) adota uma agenda abertamente liberal para a cidade, falando inclusive em cortes radicais de secretarias. São vozes de mudança; mas têm, realisticamente falando, poucas chances em meio ao mar de novas promessas e programas que compõem o arroz com feijão de nossas eleições.
Não há nada de errado em se aumentar gastos em uma área considerada prioritária. O problema está na ausência de contrapartida: quais programas serão cortados? Quais impostos serão aumentados? Não apresentar a proposta nesses termos é manter os eleitores em um sonho infantil de possibilidades ilimitadas, além de consagrar outro legado da política federal recente: o estelionato eleitoral.
Os candidatos respondem ao que julgam ser os anseios do eleitorado. Promessas irresponsáveis refletem nossa relutância em eleger prioridades.
Um Estado que faça tudo para todos não dá; a não ser que queiramos pagar mais impostos. Encarnar as melhores intenções, bater o pé e exigir direitos são atitudes contraproducentes. A generosidade de curto prazo destrói as bases para o bem-estar no longo.
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