José Luiz Portella Pereira, 60, é engenheiro civil especializado em gerenciamento de projetos, orçamento público, transportes e tráfego. Foi secretário-executivo dos Ministérios do Esporte e dos Transportes, secretário estadual dos Transportes Metropolitanos e de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo e presidente da Fundação de Assistência ao Estudante. Formulou e implantou o Programa Alfabetização Solidária e implantou o 1º Programa Universidade Solidária. Escreve às quintas-feiras.
Na veia - a engenharia a serviço das cidades
As carências das metrópoles exigem medidas que funcionem logo. De rápida eficácia. Um exemplo seria o uso da energia solar. Ela é desperdiçada todo dia, enquanto a conta de luz pesa no bolso da população mais vulnerável.
Aspectos práticos ajudam a transformar a vida dos cidadãos. Dar oportunidades de novos caminhos é um modo de tornar a cidade mais agradável.
É possível uma política pública que implante placas fotovoltaicas nas casas de periferia, permitindo que os cidadãos captem a energia necessária para o seu consumo. É uma forma imediata de aumentar a renda dessas pessoas sem subsídios permanentes. Só o investimento inicial de instalação.
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Casa com placas fotovoltaicas |
Existe uma cartilha da Aneel que explica como fazê-lo. É boa. Mas não é fácil para o cidadão aplicar, na prática, aquilo que está à disposição. As pessoas têm que correr para ganhar o dia e não conhecem certas operações técnicas.
Facilitar a vida das pessoas é um dever do poder público. Porém, isso, o processo, não pode ser feito de modo voluntário e desorganizado. A proposta é haver um centro de engenharia aplicada que cuide exclusivamente de problemas das cidades.
Foco total. Reunir, em local próximo a alguma universidade, recém-formados com talento para pesquisa, auxiliados por alunos-estagiários e especialistas, para descobrirem soluções para dificuldades práticas do dia a dia. E ajudarem diretamente as pessoas a implantar essas soluções, produzindo conhecimento, bem-estar e gerando royalties.
O uso da energia solar para substituir a energia elétrica, além da economia, pode gerar um excedente que o cidadão venderia ao sistema, obtendo alguma renda.
Embora já acessível, o desafio é fazer a implantação e, depois, a manutenção. Aí entra o centro de engenharia aplicada. Ele desenvolveria a tecnologia para ambos os processos se tornarem cada vez mais baratos.
Há inúmeros outros exemplos. O centro preconizado desenvolveria pesquisas para eliminar ou restringir enchentes em bairros conhecidos, como o Jardim Pantanal.
Facilitaria o processo o uso de aplicativos objetivos para o cotidiano. Hoje existem modelos para se chamar táxis que funcionam muito bem, mas não há informação, nos pontos de ônibus, sobre o tempo de espera de cada linha.
Há muita tecnologia produzida no mercado e pouca aplicação prática para as pessoas. É inexplicável que até hoje, com tanto conhecimento produzido, não haja, numa cidade como São Paulo, um centro tecnológico buscando permanentemente soluções.
Jogamos fora um saber existente.
O caminho prático é olhar para a pessoa desde o momento que acorda e sai de casa para o trabalho/estudo e verificar onde a coisa pega até a hora do retorno. Listar os problemas e mergulhar na busca de soluções.
Reprodução/Wikipedia/Favelas_na_cidade_de_São_Paulo | ||
Todos esses telhados poderiam ser de energia solar |
A cidade precisa de dois movimentos: um, o de se valorizar bens intangíveis, como andar por ela com segurança e satisfação; outro, o das soluções práticas, diretas na veia. O primeiro gera o prazer. O segundo mitiga as agruras.
Nenhuma cidade é perfeita. O segredo é saber conectá-los.
A engenharia não é só matemática. É magia; colocar em pé o que se precisa.
Em urbanismo, deve ser a arte de construir, todos os dias, a alegria de alguém.
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