José Luiz Portella Pereira, 60, é engenheiro civil especializado em gerenciamento de projetos, orçamento público, transportes e tráfego. Foi secretário-executivo dos Ministérios do Esporte e dos Transportes, secretário estadual dos Transportes Metropolitanos e de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo e presidente da Fundação de Assistência ao Estudante. Formulou e implantou o Programa Alfabetização Solidária e implantou o 1º Programa Universidade Solidária. Escreve às quintas-feiras.
A cidade, o esporte e o celular
O Brasil tem uma clara vocação esportiva. De 2001 a 2010, o PIB do esporte (produção de riqueza) cresceu 6,2%, contra 3,2% do PIB brasileiro. Quase o dobro. No período 2007 - 2011, foi de 7,2%.
A receita com esporte corresponde, na pior hipótese, a 1,6% do PIB brasileiro. E, na melhor, a quase 2% (1,997%). Depende do tipo de levantamento.
De todo modo, o PIB do esporte, no Brasil, é semelhante ao PIB total da Sérvia.
Pode ser ainda muito maior.
Quem tem crescido brutalmente é o chamado Esporte de Aventura, também conhecido como Esporte Radical.
A indústria de equipamentos para a prática de esportes fora das academias cresceu 20% (2004) e vem acelerando. Oitenta por cento do faturamento é realizado por esportistas ocasionais ou principiantes. Só 20% vêm dos profissionais.
Nas cidades, o mundo do skate cresce vertiginosamente e envolve toda a juventude. Ajuda a mudar o padrão de comportamento do pessoal entre 12 e 30 anos.
Zanone Fraissat/Folhapress | ||
Jovens no parque do Ibirapuera |
E aí que está o ponto. Ele pode mudar a cidade e tirar a meninada do celular precoce. O esporte é a alternativa à vida no celular. É a vida fora da web.
Cada vez mais um artigo inseparável, em que pesem todas as vantagens de informação e comunicação, o celular gera graves problemas de isolacionismo. Separa as pessoas, apesar de colocá-las perto. E provoca uma imersão, especialmente dos mais jovens, que drena a energia da cidade.
Os jovens são a base e o impulso dessa energia que proporciona o contato social. As famílias se renovam com as crianças. A cidade se renova por conta dos jovens.
A juventude é a força motriz da vida nas ruas. Cidade sem vínculos pessoais, sem pessoas reunindo-se e conversando, é cidade doente, triste.
Mesmo com todo esse dinamismo econômico acima relatado que atesta a resposta imediata que as pessoas dão ao seu chamado, o esporte é mal explorado. Deixa esvair-se um grande desejo de participação que não encontra os meios necessários. Principalmente na periferia onde, mais do que a própria carência de equipamentos, faltam eventos organizados permanentes para o dia a dia. Criar uma rotina de participação e treinamento.
SXC | ||
Jovens ao celular |
Em Florianópolis, as corridas de rua passaram a ser o segundo esporte mais praticado. Hoje, existem cerca de 40 assessorias que organizam essas corridas.
Em todas as cidades do Brasil, principalmente nas metrópoles, há um desejo por corridas de rua e eventos esportivos. Esse imenso potencial é o que estamos desperdiçando ao não explorá-lo com planejamento e organização.
Tratamos o esporte como atividade lúdica, sobretudo. É o mesmo erro que se faz com a bicicleta. Além do lúdico, o esporte é saúde pública, treinamento, produção de esportistas para o alto rendimento. Porém, acima disso, o esporte é uma alternativa incomparável de criação de uma cidade saudável. Junto com a cultura. Mas com potencial maior de participantes.
A cidade precisa de gente na rua. Convivendo. O esporte faz isso.
A "celularmania", aquele olho na telinha que não se levanta nem na hora do diálogo, é o símbolo do isolacionismo.
O esporte é o melhor antídoto para isso. E ainda gera emprego, renda e vida na cidade.
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