Cada segundo será uma eternidade para os corintianos

Apreensivo corintiano, impaciente corintiana, se você está lendo este texto por volta das dez da manhã de sábado, faltam apenas 108 horas para o começo do grande jogo. E 110 horas para o seu fim, se não vierem os pênaltis.

Até lá, nada mais importa. É como se o mundo parasse, apenas esperando o tempo passar. Na rua, alguns darão corda em seus rolex chineses por pensarem que estão quebrados. Outros serão vistos parados em frente a relógios de igreja, rezando para que os ponteiros andem mais rápido. Até mesmo monges budistas olharão com raiva para os grãos de areia que caem vagarosamente na ampulheta. Como será longa a espera. E não haverá nem um joguinho do Timão no fim de semana para espairecer.

Um modo de driblar alguns segundos é fuçar na internet para ver se alguém se machucou. Inclusive nos sites argentinos. Aliás, abramos cá um parêntese: (acabei de ler uma má notícia, o Boca prorrogou os contratos de quatro jogadores: Roncaglia atrasou sua apresentação à Fiorentina, Cvitanich teve sua volta ao Ajax adiada, e Rolando Schiavi e Sebastián Sosa tiveram seus contratos ampliados até 5 de julho. Ou seja, o Boca virá completo.).

Faltam 388.800 segundos para o começo do jogo. Agora, 388.799. E cada um deles será uma eternidade.

Como pensar em outra coisa? Nesta semana as repartições públicas estarão ainda mais lentas, os motoboys pilotarão vagarosamente, carros sairão da linha de montagem sem maçanetas, cirurgiões esquecerão bisturis no abdômen de seus pacientes, salva-vidas ficarão olhando para o horizonte enquanto banhistas desatentos se deixarão afogar pelas ondas.

Dan Stulbach terá que ser cutucado por seus amigos no programa de rádio, Washington Olivetto ficará sem ideias, Ronaldo ficará sem apetite, Marília Gabriela e Juca esquecerão as perguntas que fariam aos seus entrevistados, Tom Zé embatucará.

Não há o que fazer, a não ser ir até o bar da esquina e ficar conversando sobre o jogo. Mas o time está tão definido que nem dá para fazer especulações. Algum torcedor mais exaltado pode querer Romarinho desde o primeiro minuto, mas os outros nem darão bola. Tite tem o time e a torcida na mão. Ninguém duvida de sua competenciabilidade.

No desespero, uns poucos torcedores comprarão este jornal para matar alguns minutos. E, ironicamente, acabarão lendo justo esta coluna que fala sobre a lentidão dos segundos. Sem dúvida, uma perda de tempo.