Tem mais de 40 anos de profissão. É formado em ciências sociais pela USP. Escreve às segundas, quintas e domingos.
Talvez desenhando
TENTEMOS DESENHAR, mesmo que sem habilidade para tal e pela derradeira vez: o problema do futebol brasileiro NÃO É a seleção brasileira!
O problema da seleção brasileira NÃO É o seu técnico!
Que se danem, por ora, no entanto, tanto a seleção brasileira quanto o seu técnico.
Apenas guarde num canto da cabeça que se a seleção brasileira fosse o problema não teria vencido, apesar de tudo, cinco das 20 Copas do Mundo –mais que qualquer Alemanha, Itália ou Argentina da vida.
Parte do problema do futebol brasileiro está até em ser capaz de produzir seleções que ganham Copas –e enganam os incautos ou fornecem falsos argumentos como já ouvi de um grande empresário da nossa mídia: "Mas você não reconhece nem que o Ricardo Teixeira ganhou duas Copas?!", perguntou entre o provocador e o surpreso.
Ora, até as traves sabem que quem ganhou as duas Copas na escandalosa gestão Teixeira foram Romário, Dunga (sim, Dunga!), Rivaldo, Ronaldos, como foram Didi, Garrincha, Pelé, Tostão, Rivellino, Gérson, os que ganharam o tri na era não menos viciada de João Havelange.
Você, raro leitor, já conversou com José Maria Marin, com seu antecessor ou com seu sucessor?
Se não, já parou para prestar atenção numa entrevista, num pronunciamento deles?
Pois saiba que só a malfadada superestrutura de poder que infelicita nosso futebol há tanto tempo é capaz de produzir personagens tão medíocres, tão sem graça, dotados apenas daquela esperteza dos que nasceram voltados para o deslize, para levar vantagem em tudo –e tanto é verdade que levam, mesmo quando têm de sair correndo por pegos com a boca na botija.
Enquanto tal estrutura não se romper, virá um Felipão para ser campeão e outro para sofrer humilhação. Um Dunga para brigar com a sombra ou pregar paz e amor. Ou um Parreira para dar vinho ou vinagre.
As vitórias e as derrotas dependerão sempre de quem, de chuteiras, nos gramados, der o tom.
Se for um Rivaldo, tudo bem. Se um for um Grafite, desculpe, o desenho ficará ruim.
É preciso implodir a CBF e isso só clubes, e jogadores, poderão fazer.
Clubes que têm a preferência no coração do torcedor (pergunte a amigos quem eles preferem campeões, se seus times ou a seleção), embora não tenham a repercussão da seleção, porque o segundo time de todos.
Não só é inútil trocar o técnico do escrete como inútil é mudar o presidente da Casa Bandida do Futebol enquanto for a casa que joga de bandido contra o futebol.
Coisa que seria muito bom também se os patrocinadores que agora se escondem em política de contenção danos, se dessem conta.
Assim como a Globo, por ela mesma e, principalmente, pelo futuro limpo de nosso futebol.
Desenhei?
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade