Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Copa não é Brasileirão!

Precisava alguém descobrir a pólvora e, felizmente para o futebol brasileiro, o descobridor está entre nós: Mano Menezes é o nome dele e, ainda melhor, já encontrou seguidores.

Entre estes, certamente não está mestre Fernando Calazans, que há anos vem nos chateando com colunas e comentários sobre a nudez do rei.

Mas, nós, complacentes, embora sempre observando o nivelamento por baixo de nossos campeonatos, passamos a enaltecer a combatividade, o espírito de luta, a marcação, criamos até um novo argumento para elogiar os jogos, a tal da intensidade. "Jogos intensos" têm sido comum em nosso linguajar.

Ora, só um beócio para comparar a qualidade possível numa Copa do Mundo com o Campeonato Brasileiro.

Copa do Mundo, como qualidade no campo e no banco, só pode ser comparada à Eurocopa e ponto final.

É óbvio que o Brasileirão não tem nenhum jogador como Lionel Messi, como Cristiano Ronaldo, Iniesta, Schweinsteiger ou Robben.

Como não tem no banco nenhum Van Gaal, Löw, Guardiola ou Mourinho.

Mas se tamanha qualidade é impossível, a Copa do Mundo no Brasil deveria ter servido ao menos para convencer nossos profissionais de buscar um outro modo de se apresentar, não este que há anos esvazia estádios e paulatina, mas insidiosamente, derruba audiências.

A ponto de no último domingo termos ouvido Casagrande, com sarcasmo, desejar a expulsão de dois jogadores, Fagner e Zé Love, "para ver se acontece alguma coisa no jogo", entre Coritiba e Corinthians.

O que Calazans há anos insiste, tão chato como este escriba sobre os temas dos bastidores, é no combate ao nhenhenhém, às reclamações por tudo de jogadores e treinadores, à cera, às simulações, à violência, aos jogos truncados, às ligações diretas, à desistência do drible, do chute de fora da área, à prevalência dos "professores" em detrimento de quem tem a bola no pé.

E aí, neguem ou não os iluminados como Mano Menezes e os por ele convencidos, a Copa mostrou um espírito perfeitamente reproduzível em nossos gramados embora com qualidade incomparável.

É só disso que se trata, nada mais, e reclamar de excesso de exigência, de busca da excelência, é típico de quem se acomodou e busca apenas garantir seu espaço em meio à mediocridade ampla, geral e irrestrita ou manter boas relações com as fontes dessa mesma mediocridade.

O nível técnico do Campeonato Brasileiro, exceção feita ao Cruzeiro e ao Fluminense, está insuportável.

E há times, como o mineiro e o carioca, que têm jogadores capazes de apresentar coisa melhor.

O Corinthians, de Mano Menezes, é um deles.

Desde que em vez de buscar desculpas esfarrapadas, ou de redescobrir a pólvora, ele mude de mentalidade e convença seus comandados.

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