Tem mais de 40 anos de profissão. É formado em ciências sociais pela USP. Escreve às segundas, quintas e domingos.
Presidentes do Corinthians e do Palmeiras têm cada vez menos poder
Livre do impeachment que uns poucos oportunistas, por razões políticas, queriam lhe impor, o presidente do Corinthians, Roberto de Andrade, teve de se submeter à vontade do ex-presidente Andrés Sanchez para manter-se no cargo.
Entregou os anéis, manteve os dedos, mas o que fará com eles só saberemos nos próximos dias, quando a fatura começar a ser paga.
Andrade, diga-se, tem a seu favor dois fatores: o time de futebol começa a apresentar bons resultados sob o comando do jovem Fábio Carille que o desgastado Sanchez gostaria de ver por um binóculo; o deputado petista, mais uma vez delatado na operação Lava Jato, assim como seu fiel escudeiro e vice-presidente do clube André Negão, talvez tenha de se preocupar mais com a própria pele do que manter sua influência no Corinthians.
Se Michel Temer, coitado, queixava-se, até por escrito, de ser um vice-presidente decorativo, Andrade o supera, por estar na presidência como refém, embora não admita nem para seus botões.
Quem desfruta de situação semelhante é o presidente do Palmeiras, Maurício Galiotte, embora por outros motivos. Não é a política que o aprisiona, mas a economia.
Submetido à escolha entre o ex-presidente Paulo Nobre e a patrocinadora Leila Pinheiro, numa saia justa que Nobre poderia ter evitado se denunciasse antes a irregularidade estatutária que seria cometida para elegê-la conselheira, Galiotte optou por manter as joias da coroa. E também reina sem mandar.
Basta dizer que teve de pedir a autorização da madame para estrear o ótimo colombiano Borja no jogo contra a Ferroviária.
Presente dado por ela ao clube, e fora de São Paulo no Carnaval, a dona das decisões no Palmeiras pretendia que a estreia fosse feita com sua presença.
A derrota no Dérbi tornou o embate com o time de Araraquara mais importante do que estava previsto e ela, compreensiva, concedeu.
Miguel Ángel Borja tem tudo para ocupar o lugar de Gabriel Jesus no coração alviverde, mas sua estreia, com a permissão da real majestade, revela de maneira eloquente a subserviência de Galiotte.
Como o Corinthians vem de duas belas vitórias, a do Dérbi e a, fora de casa, sobre o até então único invicto no Paulistinha, o Mirassol, o torcedor não quer nem saber, literalmente, de quaisquer problemas e, ao saber, os repele como fofoca ou tentativa de tumultuar o ambiente aparentemente, enfim, em paz no Parque São Jorge.
Igualmente reage o torcedor de Parque Antarctica, surdo e cego depois da goleada redentora sobre a Ferroviária e com gol de Ángel.
Enquanto não chegar o dia (chegará?) em que o futebol for dirigido profissionalmente no país, até mesmo clubes imensos como os dois rivais estarão dependentes ou de coronéis que nem disfarçam seu coronelismo ou de gente com aparência moderna que precisa se submeter ao mecenato.
Nada que torne potências como Corinthians e Palmeiras, com clientela cativa e de milhões de pessoas, autossuficientes.
Entre a Sociedade Anônima do Futebol e a fama à custa da dependência, a preferência é sempre pela segunda.
E esta é sempre deletéria, quando não é ainda pior, segunda divisão.
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