Tem mais de 40 anos de profissão. É formado em ciências sociais pela USP. Escreve às segundas, quintas e domingos.
Enquanto empresários e políticos vão para a cadeia, o esporte se safa
A semana está rica em prisões que tardaram, mas não falharam -e em violências inomináveis como a que atingiu o jornalista Reinaldo Azevedo.
Hipocrisias também não faltaram, como ficou patente na entrevista do "ingênuo" Michel Temer e na despedida do outro "ingênuo" Aécio Neves, ambas nesta Folha.
A quem pensam que enganam?
Mas Agnelo (cordeiro em italiano, mas em pele de lobo) Queiroz está preso em Brasília e Sandro Rosell está preso em Madri, um pelo que roubou no Mané Garrincha, outro pelo que fez em associação com Ricardo Teixeira que, no entanto, permanece livre, leve e solto Brasil afora, protegido pela impunidade que se imagina acabada no país. Mas não.
Cabe perguntar, e aqui se perguntará até que haja uma resposta convincente, ou as devidas punições, por que Teixeira e o Marco Polo que não viaja seguem gozando de tamanho privilégio se não restam dúvidas sobre seus malfeitos?
Por que Carlos Nuzman não é incomodado pela Justiça brasileira?
O que eles têm que outros não têm?
Não perceberão as autoridades responsáveis o caráter exemplar que terão perante o torcedor brasileiro as devidas punições de cartolas que há décadas infelicitam e empobrecem o esporte nacional?
Até quando as denúncias feitas pela imprensa e em três CPIs, duas do começo do século, outra ainda recente, presidida pelo senador Romário de Souza Faria, não encontrarão eco no Ministério Público Federal e na Polícia Federal?
Por que a Justiça brasileira está surda diante das ações em curso nos Estados Unidos, Suíça, França e Espanha, se em todas elas há cartolas brasileiros envolvidos?
Nem mesmo se dissessem que são casos menores, de dinheiro de pinga, haveria justificativa no país em que pequenos furtos lotam os presídios com infelizes que não têm como se defender. Mas não!
Estamos falando de milhões de dólares, de euros, de reais.
Os estádios da Copa do Mundo são monumentos da corrupção e do desperdício, assim como os da Olimpíada, dinheiro público escoado para bolsos óbvios e impunes.
Dívidas monstruosas e impagáveis afetam clubes como o Corinthians, prefeituras e governos estaduais e federal e ninguém vai preso?
Dia desses ouvi de alguém que os cartolas mais notórios já estão punidos porque não podem entrar num avião de carreira ou em restaurantes. Bobagem.
Eles viajam em jatinhos particulares, no da CBF, por exemplo, e frequentam restaurantes com seus iguais, se duvidar até aplaudidos são, porque muitos dos que bateram panelas estavam só protestando contra a mudança de mãos nas tenebrosas transações dos bastidores e porões. Sabemos que nem mesmo pararam de agir apesar das operações em curso, alguns de dentro da cadeia.
Ainda falta muito para convencer o cidadão comum, o que paga impostos e se indigna, que o crime não compensa.
Pergunte aos cartolas se compensa ou não.
Eles rirão na sua cara, rara leitora, raro leitor.
KIRRATA
O voo da muamba foi o do tetra, mas a recepção de Fernando Henrique Cardoso a Ricardo Teixeira foi no penta.
A confusão feita aqui na última coluna fica desfeita.
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