Tem mais de 40 anos de profissão. É formado em ciências sociais pela USP. Escreve às segundas, quintas e domingos.
Carille sempre disse que o Brasileiro só seria decidido no final e estava certo
Avener Prado - 12.jan.2017/Folhapress | ||
O técnico do Corinthians, Fábio Carille |
A enorme vantagem aberta pelo Corinthians ainda no primeiro turno do Brasileiro jamais impressionou o treinador Fábio Carille.
Por modéstia, despiste, prudência ou cálculo, a cada rodada quando todos já davam o time como campeão ele repetia, feito mantra, que pensava jogo a jogo e que queria ver a equipe chegar perto do fim em meio aos concorrentes ao título. Se estivesse em primeiro lugar, melhor.
Pois faltam só oito rodadas e o alvinegro segue no topo da tábua de classificação, seis pontos adiante de Palmeiras e Santos, num mini-Paulistão, agora sim, no aumentativo, para ver quem chega à frente.
O técnico tem razão também quando diz que não é hora de mudanças táticas, de fazer experiências, porque seria apenas motivo para insegurança do grupo.
O que não impede constatações óbvias, embora impossíveis de serem corrigidas em pleno voo.
Tirante nas posições que evitam e fazem gols, a queda de desempenho dos titulares é evidente.
Cássio segue bem, mas desfalcará o time, por estar na seleção brasileira, em três rodadas, a 33ª, 34ª e 35ª, contra o Atlético-PR, na Arena da Baixada, e Avaí e Fluminense, em Itaquera.
Jô, com dois cartões amarelos, dificilmente passará incólume em oito jogos.
Se não bastasse, Fagner, que já não justificava as convocações de Tite, anda de crista baixa e na outra lateral, a esquerda, é visível como Guilherme Arana deixou de ser decisivo, fruto da natural irregularidade de um jovem em começo de carreira.
Na defesa, é possível, no condicional, que a volta de Pablo restabeleça o ótimo entrosamento com Balbuena, para que a bola aérea não siga como tormento para zaga.
Não que Pedro Henrique tenha culpa de coisa alguma, apenas não está à altura do companheiro ultimamente ausente.
Só que o problema maior está no meio-campo -além de aparente diminuição de preparo físico, perceptível na lentidão da recomposição defensiva, uma das principais armas no primeiro turno, como as triangulações pelos cantos do campo.
Para tanto colabora, a exemplo de Arana, o declínio de Maycon, a péssima fase de Jadson, a sobrecarga inevitável de Rodriguinho e o fato de Romero ter voltado a ser o de quase sempre, como se fosse seu irmão gêmeo o jogador do turno.
Gabriel é Gabriel, cão de guarda, menos faltoso do que já foi, mas, ainda assim, capaz de abusar das faltas e dos cartões amarelos.
Como se sabe, o próximo adversário do líder é a Ponte Preta, em Campinas, repeteco da decisão do Paulistinha, mas jogo muito mais dramático e importante –os corintianos em busca de um pouco de paz que os seis pontos ainda asseguram e os pontepretanos no desespero da zona do rebaixamento.
Sem alterar fundamentalmente coisa alguma, Carille terá de ousar.
Talvez com Marquinhos Gabriel pelo meio no lugar de Jadson e com Clayson na vaga de Romero, por mais que o paraguaio seja abnegado como marcador.
Será difícil ver o Corinthians jogar como campeão daqui por diante, porque deixou de jogar assim há 11 rodadas.
Resta agora gerenciar a vantagem, como um gerentão cuida da poupança que se esvai.
Porque ter razão não garante ter a taça.
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