Tem mais de 40 anos de profissão. É formado em ciências sociais pela USP. Escreve às segundas, quintas e domingos.
A falência econômica e moral do Rio tornou seus estádios locais perigosos
Senão, vejamos: o Rio de Janeiro não paga seus funcionários, não abastece seus hospitais, e, segundo o digníssimo ministro da Justiça, Torquato Jardim, os comandantes da Polícia Militar fluminense são cúmplices dos bandidos.
Três ex-governadores do Estado, Sérgio Cabral Filho, Anthony Garotinho e Rosinha Matheus, estão presos ou estiveram, caso da esposa de Garotinho, que foi solta embora não possa sair de casa à noite nem com a tornozeleira eletrônica que carrega.
A CBF, com sede no Rio, tem um presidente paulista, Marco Polo del Nero, banido provisoriamente pela Fifa, e que se viajar será preso pela Interpol.
Seu antecessor, o também paulista e ex-governador de São Paulo, José Maria Marin, aguarda, em prisão domiciliar em Nova York, a sentença que estabelecerá quanto tempo mais seguirá preso.
O antecessor de Marin, o mineiro Ricardo Teixeira, como o Marco Polo que não viaja, está confinado às fronteiras brasileiras, em, por enquanto, doce exílio no próprio país.
O ex-presidente do COB e do CoRio-16, o carioca Carlos Arthur Nuzman, já teve a experiência de ver a quadratura do sol e está com o passaporte aprendido.
Daí não surpreender que uma torcida excluída se organize para invadir o Maracanã e ver a final da Copa Sul-Americana sem pagar o alto preço dos ingressos.
Assim fez um grupo de torcedores do Flamengo, como outro causou tumulto em frente ao hotel onde estavam hospedados os jogadores do Independiente, mais um apedrejou o ônibus argentino no caminho do estádio e mais outro fez do entorno do campo uma praça de guerra na saída.
Tudo para coroar a temporada em que, em fevereiro, antes do clássico Botafogo x Flamengo, no Engenhão, um torcedor morreu vítima de perfuração de objeto cortante e, em julho, durante um Vasco x Flamengo, a briga foi tamanha que São Januário acabou interditado.
Faltava o Maracanã. Pois não falta mais.
Ir a quaisquer dos três mais importantes estádios cariocas é uma aventura não recomendável a menores e maiores de 18 anos.
Márcio Alves - 13.dez.2017/Agência O Globo | ||
Flamenguistas tentam invadir Maracanã em final da Sul-Americana |
Se você concluiu que o elemento comum aos três episódios é o Rio, enganou-se.
Porque é o Brasil.
No Rio tudo está apenas mais exacerbado, porque lá a situação chegou ao fundo do poço.
Também não é o torcedor do Flamengo, outro elemento comum aos três exemplos de barbárie.
Porque ele não é diferente do corintiano, do são-paulino ou do palmeirense e santista.
Só tem mais certeza da ausência do Estado, da impunidade, da terra de ninguém, como no Complexo do Chapadão, o mais perigoso da Cidade Maravilhosa.
Seria menos ruim se a selvageria estivesse restrita ao Rio, mas é o Brasil que regride a olhos vistos.
Lula está condenado em primeira instância e será o primeiro político brasileiro a ser julgado a jato em tribunal superior, o que seria boa notícia, não fosse tão óbvia a seletividade da Justiça.
Dilma está impedida porque pedalou e Temer preside o país à custa de comprar deputados para escapar dos rigores da lei porque, mais que pedalou, corrompeu. E foi gravado!
De onde se conclui que o nosso torcedor não tem por que cantar "sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor".
Embora o amor sobreviva.
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