Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Futebol e basquete têm muito mais coisas em comum do que se pode imaginar

Crédito: Lee Smith/Xinhua Guardiola é um dos treinadores que usam conceitos do basquete no futebol
Guardiola é um dos treinadores que usam conceitos do basquete no futebol

Não é novidade para ninguém que os técnicos de futebol usam conceitos do basquete.

Na terra do melhor basquete do mundo, em 1994, Carlos Alberto Parreira comandou a seleção brasileiro para o tetracampeonato baseado em forte marcação e com a ideia de ficar com a bola.

"Quando meu time está com a bola, no mínimo não corre perigo de sofrer gols", dizia. Nem cestas...

Se é impensável que os torcedores de futebol façam coros de "defesa, defesa", como se ouve nos ginásios americanos, cada vez mais a importância de defender é entendida nos estádios.

Não se marca mais homem a homem como antes, a diminuição dos espaços é um imperativo, a rapidez na transição da defesa para o ataque se impõe, chutar de fora da área é arma poderosa, como de três pontos, o jogador talentoso capaz de romper esquemas fechados com dribles em direção ao gol é valorizado.

Porque não é só para defender que o jogo com os pés imita o com as mãos.

Centroavantes capazes de fazer o papel de pivôs ganham importância além da capacidade de fazer gols, mas, também, por dar passes para gols ou de criar condições para quem vem de trás irromper no último terço do gramado.

Cruyff, Sacchi, Bielsa e Guardiola cansam, ou cansaram no caso do holandês, de falar e de usar princípios do bola ao cesto no ludopédio.

Quem não gosta diz que os jogos de basquete deveriam começar nos últimos três minutos, visão pobre de quem imagina que todo o tempo anterior não é decisivo.

Do mesmo modo há quem não veja graça em acompanhar 90 minutos de uma partida sem gols.

Como, então, um esporte de contagens tão altas pode ser apropriado por outro de placares baixos?

Podendo.

Se você assistir um jogo qualquer do futebol britânico entenderá perfeitamente.

Como na NBA, a filosofia de que o jogo não pode parar, que o show tem de continuar, é aplicada incessantemente nos gramados perfeitos dos súditos de Sua Majestade.

Claro que tanto com os pés quanto com as mãos, de vez em quando, sai um quiprocó que paralisa o espetáculo, porque ninguém é de ferro.

Mas, em regra não é assim.

O respeito a quem paga o ingresso ou o direito de ver pela televisão prevalece.

Simulações são inaceitáveis para as arbitragens e vaiadas sem dó pelos torcedores.

A NBA e a Premier League perceberam há anos que malandro mesmo é o competidor honesto, porque remunerados regiamente pelos espetáculos que são capazes de proporcionar.

E não pense mesmo que Parreira, Cruyff, Sacchi, Bielsa ou Guardiola são os pioneiros.

Togo Renan Soares, o Kanela, treinador da seleção brasileira bicampeã mundial de basquete em 1959/63, já olhava para os dois esportes com o mesmo olhar, a ponto de João Saldanha render-lhe homenagem como entendedor do chamado esporte bretão, como você poderá comprovar na deliciosa leitura do "Livro do Jô, uma biografia desautorizada", do genial Jô Soares, sobrinho do técnico, e do exímio jornalista Matinas Suzuki, pela Companhia das Letras.

Tudo bem que Kanela também era gênio e até de remo foi treinador, aí sim, sem nada a ver com basquete.

Com os pés e com as mãos, a NBA e a Premier League são palcos de campeões.

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