É secretária de Redação da sucursal da Folha em Brasília. Atuou como repórter na cobertura de temas econômicos. Escreve aos sábados.
'Toma lá, dá cá' pela Previdência tem impacto fiscal negativo
Pedro Ladeira/Folhapress | ||
Deputados governistas comemoram a aprovação do texto-base da reforma da Previdência em comissão |
BRASÍLIA - A explicitude do "toma lá, dá cá" pela aprovação da reforma da Previdência escala níveis indecorosos. Talvez maior virtude do presidente Michel Temer, a capacidade de diálogo com o Congresso vem sendo drenada pela decrescente popularidade do peemedebista e pela crescente rejeição às mudanças estruturais. Tornaram-se frequentes os achaques multilaterais na Esplanada dos Ministérios.
O Palácio do Planalto cassou à luz do dia cargos federais de deputados aliados que votaram contra a reforma trabalhista. Quem não apoia a agenda governista não pode ter boquinha no governo. Aos fiéis, a ordem é acelerar o pagamento de emendas parlamentares estimadas em R$ 1,9 bilhão. Cogita-se ainda elevar o valor liberado por cabeça.
Sem rodeios, a Frente Parlamentar da Agropecuária avisou à equipe econômica que os mais de 200 agroparlamentares ficarão mais propensos a votar pela nova Previdência se o governo baixar uma medida provisória reduzindo a contribuição ao Funrural (Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural). Quer ainda condições camaradas para pagar um passivo de R$ 10 bilhões com o fundo.
Prefeitos acenam com o apoio de suas bancadas em troca de outra medida provisória. O "quid pro quo" envolve a ampliação de cinco para 20 anos do prazo de parcelamento da dívida dos municípios com o INSS. Temer deve ceder à garfada.
Sob o zelo de deputados sonegadores, a comissão do Congresso que tratava do "novo Refis" incluiu no programa uma miríade de benefícios para devedores da União. Com isso, em vez de arrecadar R$ 8 bilhões, a Receita perderá R$ 23 bilhões. O Ministério da Fazenda, agora, busca frear a investida.
Parlamentares sussurram que um veto às alterações terá efeito indesejado sobre os votos de ao menos 54 deputados.
As negociações pela reforma da Previdência avançam —sem recato e com impacto negativo sobre as contas públicas pouco mensurado.
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