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julia sweig

 

13/02/2013 - 03h00

Sucessão papal importa para todos

AS ESPECULAÇÕES sobre quem o colégio de cardeais vai eleger para ser o novo papa estão centradas na distribuição geográfica dos católicos no mundo. Apenas 16% da população mundial é católica, mas cerca de 40% desses fiéis são latino-americanos, e 16%, africanos.

E eis mais alguns números: de acordo com o Fórum Pew sobre Religião e Vida Pública, 432 milhões de latino-americanos -nada menos que 73% da população da região- se identificam como católicos (mesmo que não sejam praticantes).

Mais ou menos 124 milhões de brasileiros se declaram católicos, fazendo do Brasil o país de maior população católica no mundo, com 12,2% do total mundial. O México possui a segunda maior população católica. Na Colômbia, apenas o sexto país católico do mundo, 38 milhões dos 42 milhões de habitantes se dizem católicos.

Não saberemos antes da Páscoa se a forte concentração católica latino-americana e africana vai penetrar a longa história de domínio da Europa sobre o pontificado.

Pode levar mais tempo para a liderança do Vaticano tornar-se mais representativa do que levará para o Conselho de Segurança da ONU, onde o Brasil e a América Latina, como um todo, têm direito a reivindicar com legitimidade igual uma distribuição mais representativa dos assentos permanentes.

Contudo, mais além da origem nacional ou regional do sucessor do papa Bento, e deixando de lado a questão distinta de como o Vaticano enfrenta (ou, quem sabe, inadvertidamente propicia) a ascensão dos evangélicos nas duas regiões, me parece que a Igreja Católica ainda não está preparada para adaptar sua doutrina ao modo como as pessoas vivem e amam hoje.

Casamento e união civil gays, direitos das mulheres e contracepção para prevenir gravidezes ou doenças: não tenho as estatísticas à mão, mas vale apostar que alguns latino-americanos que se identificam como católicos também são gays, lésbicas, mulheres, usuários de contracepção ou todas as alternativas acima. Ou que são simplesmente seres humanos modernos: homens, mulheres, gays, heterossexuais ou pessoas situadas em algum outro ponto do espectro contínuo de gênero/sexualidade.

O mesmo pode ser dito dos EUA, onde as prioridades evangélicas da igreja se chocam com a rigidez dela na doutrina social e sua hipocrisia por proteger responsáveis por abuso sexual de menores, ao mesmo tempo em que prega a proteção dos mais vulneráveis entre nós.

Mas será realmente necessário que a Igreja Católica se torne menos rígida, mais progressista? Todos nós conhecemos católicos praticantes ou quase praticantes que extraem de suas orações uma força espiritual que vale muito mais que suas divergências doutrinais com a igreja. Se os próprios fiéis podem conviver com as contradições, ansiar por um Vaticano mais moderno não será um pouco secular demais, ou até um pouco ingênuo?

Creio que não. Embora o Vaticano já não possua o peso político do Conselho de Segurança da ONU, ele ainda exerce poder cultural enorme. E esse poder ainda afeta todos nós.

julia sweig

Julia Sweig é diretora do programa de América Latina e do Programa Brasil do Council on Foreign Relations, centro de estudos da política internacional dos EUA. Escreve às quartas-feiras, a cada duas semanas.

 

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