É pesquisadora-sênior na Lyndon B. Johnson School of Public Affairs, da Universidade do Texas, em Austin (EUA).
Linha vermelha global
Enquanto Obama se reúne com sua equipe de segurança nacional, os americanos --bem, alguns poucos, em círculos de elite de política externa-- também vão debater como a Casa Branca deve reagir aos ataques químicos de Assad.
Não existem opções estrategicamente satisfatórias. Não sou fã de intervenções militares e compartilho o ceticismo brasileiro e latino-americano em relação à ideia de que Washington teria algum direito divino de impor mudanças de regime.
Mas ler sobre os efeitos tenebrosos dos ataques e olhar para eles me forçou a deixar de lado minha hesitação visceral em relação ao recurso de Washington à força, com frequência muito reflexivo.
O argumento mais cínico sobre como responder sugere que o Ocidente não deveria fazer nada, pois a morte provocada por armas químicas é a mesma que a causada por armas convencionais. Como disse um autor, "morto é morto".
E há a conclusão analítica mais fria de que o impasse na Síria é o resultado que mais beneficia interesses dos EUA: evitar ações que façam a balança pender demais na direção de forças oposicionistas islâmicas radicais ou na direção de Assad.
No outro extremo, alguns argumentam que uma intervenção em escala total --por terra, ar, com suporte para as forças rebeldes, com ou sem justificação legal internacional-- é a única maneira de mostrar ao Irã e à sua vizinhança que Washington é um adversário digno de crédito, caso Teerã finalmente atravesse o limiar das armas nucleares.
E, entre os extremos, ouvimos chamados por combinações limitadas de ataques precisos com mísseis, zonas de exclusão aérea, treinamento e armas. Ao mesmo tempo, um consenso parece ter se consolidado em Washington e internacionalmente de que não há solução militar para o conflito na Síria.
A administração parece estar seguindo o seguinte rumo: lançar um golpe forte contra Assad, ao mesmo tempo evitando uma escalada do envolvimento da América; tomar posição contundente na defesa da norma global contra o uso de armas químicas; isolar os russos e sua defesa renhida de Assad e fazer uma grande investida diplomático-político-humanitária da equação.
Uma coalizão "ad hoc" --Alemanha, França, Reino Unido, Turquia e possivelmente a Liga Árabe, que já concorda que Assad é responsável pelo ataque químico-- agora está disposta a passar ao largo do Conselho de Segurança e do veto russo.
Alguns governos latino-americanos, incluindo o Brasil, condenaram o uso de armas químicas e pediram à Síria que permitisse o acesso dos inspetores da ONU.
Guatemala e Argentina, ocupando cadeiras rotatórias no Conselho, têm históricos de atrocidades cometidas por seus próprios governos contra civis --e profunda convicção contra intervenções militares.
O Brasil ainda pode ter maior papel de liderança, oferecendo sua experiência na assistência humanitária a refugiados e civis, ao mesmo tempo em que insiste numa solução político-diplomática. Esse caminho pode não se adequar perfeitamente aos parâmetros da "responsabilidade ao proteger", mas colocará o Brasil do lado certo da história.
Tradução de CLARA ALLAIN
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