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Kennedy Alencar

 

20/04/2012 - 22h12

Por que nasceu a CPI

Ainda hoje muita gente em Brasília pergunta por que, diabos, um governo popular e com maioria no Congresso deixou ser criada a CPI do Cachoeira. Até governadores petistas andaram demonstrando espanto com a iniciativa encabeçada pelo seu próprio partido. Afinal, reza a tradição que CPI nunca é bom para governo.

Quem conversou recentemente com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o ex-ministro José Dirceu e com cardeais petistas obteve algumas pistas que ajudam a explicar a origem dessa CPI. Em resumo, Lula e Dirceu não pretendem aceitar que o mensalão passe para a história como o escândalo de corrupção mais grave dos 512 anos de existência do Brasil.

Lula e Dirceu estariam dispostos "a dividir o país", nas palavras de um cardeal petista, para evitar que o mensalão seja catalogado como o maior caso de corrupção da história. Isso significa mobilizar os setores mais organizados da sociedade que defendem o PT para uma batalha nas ruas, nas redes sociais e nas articulações em Brasília.

Só para lembrar, no início de 2006, quando Lula começava sua campanha pela reeleição, uma linha de ação que poderia ter sido adotada foi batizada internamente de "venezuelização" da campanha eleitoral.

Traduzindo: adotar a estratégia de enfrentamento que Hugo Chávez aplicou em relação aos setores da sociedade venezuelana que não lhe apoiavam. Lula cogitou abandonar o figurino paz e amor e adotar uma linha de cisão política, no estilo "nós contra eles".

Quando fala em "farsa do mensalão", o ex-presidente busca relativizar o que ele mesmo sabe ser um desvio de conduta grave de uma legenda que nasceu se dizendo defensora da ética na política. Lula já disse que o PT errou, mas tenta minimizar o episódio, dando a ele ar de financiamento eleitoral e partidário ilegal. Não aceita que seu governo seja tachado como o mais corrupto da história, que ele seja retratado como o presidente mais tolerante com malfeitos e que Dirceu seja transformado no maior vilão da república.

É assim que o ex-presidente pensa.

Para Lula, Dirceu e uma parcela de dirigentes do PT, é preciso fazer uma disputa política neste momento. E eles acreditam que o melhor palco para isso é a CPI do Cachoeira.

Motivo: consideram que há enorme possibilidade de o STF (Supremo Tribunal Federal) julgar em breve o processo do mensalão e que a imprensa e a oposição farão pressão por uma condenação política e penal dura.

Na opinião de Lula, Dirceu e alguns caciques petistas, a CPI do Cachoeira daria ao PT a oportunidade de investigar como acusações de corrupção contra o partido tiveram origem nos últimos anos. A esperança de Lula, Dirceu e cia. é obter evidências e provas de que boa parte dessas acusações teria tido origem na turma de Carlinhos Cachoeira. Mais: eles acreditam que seria possível encontrar laços mais consistentes dessa turma com setores da oposição.

Se estiverem corretos, Lula, Dirceu e dirigentes da cúpula do PT acham que a importância do mensalão poderá ser relativizada e que a foto histórica do episódio manchará menos os dois governos lulistas. Também têm a esperança de que alguns ministros do STF poderão se sentir confortáveis para absolver acusados no processo.

Eis, portanto, algumas razões que levaram o PT a patrocinar a CPI do Cachoeira.

*

Tempo político

Há réus no processo do mensalão que avaliam a tese de que seria melhor para eles que o Supremo julgasse o caso ainda neste ano.

Kennedy Alencar

Kennedy Alencar escreve no site às sextas. Na rádio CBN, é titular da coluna "A Política Como Ela É", que vai ao ar no "Jornal da CBN" às 8h55 de segunda a sexta. Na RedeTV!, apresenta os programas "É Notícia" e "Tema Quente".

 

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