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Kennedy Alencar

 

05/10/2007 - 00h02

A política como ela é

"Nunca ouvi o presidente falar isso. Ele nunca falou. Não conheço, não confirmo de jeito nenhum." A declaração em si não tem grande importância. É apenas o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, negando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha revelado em jantar com políticos aliados na terça-feira (02/10) que cogita licença do cargo para fazer campanha a fim de eleger o sucessor em 2010.

Walfrido negou o que quatro líderes de bancadas de partidos governistas ouviram do presidente. Walfrido participou do jantar no Palácio da Alvorada. Como já dito, a declaração do ministro não é lá grande coisa. Políticos confirmaram pública e reservadamente as palavras do presidente.

A dissimulação é uma característica da política e dos políticos. Cabe à imprensa filtrar interesses, cruzar informações, pesar contradições e, como diria Carl Bernstein, um dos repórteres do caso Watergate, apresentar ao leitor a melhor versão da verdade.

O que importa na declaração de Walfrido é a revelação de uma prática constante do articulador político do governo: negar com veemência a verdade. Para quem anda jurando de pés juntos que não teve nada a ver com o chamado valerioduto mineiro ou mensalão tucano, a depender do gosto do freguês, é muito ruim ser pego na mentira assim tão... tão amadoristicamente.

Mosca azul

Em termos de dissimulação, a técnica Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil, dá aula ao político profissional Walfrido. Durante a sabatina da Folha, na quinta-feira (04/10), ela disse que não era candidata a presidente. Fugiu da pergunta se descartava disputar o Palácio do Planalto. Se um dia mudar de idéia, tudo bem. Não descartou. Só disse que não era candidata. Mas deu uma pista sobre seus planos. Acha muito cedo discutir a sucessão de 2010. Elogiou Ciro Gomes (PSB) e reconheceu o direito de o PT querer ter candidato. Ou seja, fez política.

Detalhe: em conversa recente com um amigo, Dilma disse ter dificuldade para se relacionar com as pessoas do povo do jeito como Lula se relaciona. Falava dos encontros que tem tido em viagens pelo país. O amigo achou curioso a não-candidata Dilma estar interessada em técnicas de sedução política, seara na qual Lula é mestre. De repente, é para gerenciar melhor o governo.

Falou e disse

Parabéns a Dilma pela defesa da descriminalização do aborto na sabatina da Folha. Respondeu com firmeza e argumentos: "Acho que tem de haver descriminalização do aborto. No Brasil, é um absurdo que não haja até porque nós sabemos em que condições as mulheres recorrem ao aborto. Não as de classe média. Mas as de classe mais pobres deste país. O fato de não ser regulamentado é uma questão de saúde pública. Não é uma questão de foro íntimo, não".

Como ministra da Casa Civil, ela poderia tentar convencer Lula a descer do muro e se empenhar pela aprovação de um projeto nesse sentido no Congresso Nacional. Do contrário, ficamos apenas com uma declaração corajosa, o que não é pouco num assunto bastante polêmico e no qual Dilma sempre será cobrada por suas palavras.

Opinião: a ministra está certa ao dizer que a descriminalização do aborto não é questão de foro íntimo. Uma vez descriminalizado o comportamento, será de foro íntimo, então, a decisão de realizar o aborto. A descriminalização não obrigará ninguém a interromper a gravidez.

Isto é Walfrido

Em dois episódios, o ministro Walfrido deu opiniões em encontros com líderes de partidos governistas que chamaram atenção. Numa conversa, contou ter dito a Lula que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) era como um cunhado que tinha comportamento incorreto, mas pertencia à família e, portanto, merecia ser defendido. Esta é uma versão educada das palavras que o ministro de fato usou.

Noutra conversa, dessa vez a respeito de Silas Rondeau, que deixou em maio a pasta das Minas e Energia, Walfrido declarou que o ex-ministro tinha cometido um erro. Revelou ter dito a Rondeau que seria uma burrice ele perder o foro privilegiado para se defender.

Na condição de ministro, Rondeau responderia a eventual processo judicial apenas no STF (Supremo Tribunal Federal). O ex-ministro das Minas e Energia é acusado de ligação com a máfia das empreiteiras (Operação Navalha, da Polícia Federal). Rondeau nega.

No caso do valerioduto mineiro ou mensalão tucano, Walfrido já afirmou estar disposto a se defender no cargo de ministro na hipótese de vir a ser denunciado pelo Ministério Público.

Kennedy Alencar

Kennedy Alencar escreve no site às sextas. Na rádio CBN, é titular da coluna "A Política Como Ela É", que vai ao ar no "Jornal da CBN" às 8h55 de segunda a sexta. Na RedeTV!, apresenta os programas "É Notícia" e "Tema Quente".

 

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