É diretor da Sucursal de Brasília. Foi correspondente na Europa, baseado em Londres, de 2013 a 2015. É vencedor de dois Prêmios Esso e de um Prêmio Folha de Jornalismo. Escreve às segundas.
Os erros de Jucá e a sangria da crise para Temer estancar
Às 8h04 de segunda (23), telefonei para Romero Jucá. Queria ouvi-lo sobre a manchete do dia da Folha.
Era a terceira tentativa. Chamou, chamou, chamou, e enfim ele atendeu.
"Bom dia, ministro, sei que o senhor deve estar enrolado aí, mas pode falar rapidinho?", falei.
"Não estou enrolado, não, estou tranquilo com tudo isso", afirmou Jucá.
"Quis dizer enrolado com a agenda, ministro", respondi.
Então passamos a conversar sobre a revelação do repórter Rubens Valente do teor de conversas privadas dele, Jucá, com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.
A palavra "tranquilo" já havia sido usada por Jucá durante a entrevista sobre números da economia na última sexta (20), ao lado do ministro Henrique Meirelles (Fazenda), quando o então titular do Planejamento foi questionado sobre a quebra de seus sigilos em um inquérito no STF.
Durante a segunda-feira, Juca expôs contradições e teve a proeza de unir aliados do governo Temer e da presidente afastada Dilma Rousseff a favor de sua saída do governo.
Nossa conversa pelo telefone durou três minutos. Jucá declarou que não havia motivos para pedir demissão.
Veio com a versão, repetida na mesma manhã a outros jornalistas e na coletiva que daria a seguir: na conversa com Sérgio Machado, não se referia à Lava Jato ao falar em "estancar a sangria". "É estancar a sangria da economia", disse.
Na entrevista coletiva, apresentou ainda mais uma defesa confusa: afirmou que as coisas que dissera a Machado sobre a Lava Jato eram velhas, pois já vinha declarando isso aos jornais nos últimos meses. Ao mesmo tempo, porém, falou que o jornal havia descontextualizado sua conversa.
Afinal, era tudo repetido ou as frases estavam fora de contexto?
Jucá também tirou onda da turbulência do mercado. A Bolsa caiu, o dólar subiu, e o então ministro disse que a tensão poderia, numa interpretação (só dele, talvez), estar ligada a uma preocupação externa contrária à sua saída.
Na mesma entrevista, se esquivou de contar quem é o ministro do STF que costuma conversar com ele sobre Lava Jato em eventos sociais. Ficou devendo essa.
Às 15h21, a Folha publicou áudios da conversa entre Romero Jucá e Sérgio Machado. Não havia nada sobre economia no contexto em que ele fala em "estancar a sangria". Era Lava Jato mesmo.
Minutos depois, já no Senado, Jucá anunciou que deixaria o cargo de ministro, em (mais uma) entrevista coletiva, desta vez tumultuada e constrangedora, sob a decoração de cartazes o chamando de golpista.
Em 12 dias, Temer perdeu um ministro do seu 'núcleo duro', recriou um ministério (Cultura) depois de muito protesto contra sua extinção, e começou a sofrer desgaste na base aliada do Congresso.
A frase é de Jucá (e provavelmente entrará para a história dos escândalos de Brasília), mas a sangria a ser estancada agora é a da crise política que o governo interino, no poder há menos de duas semanas, se meteu.
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