É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.
'Veep' se firma como melhor comédia no ar
QUAL A MELHOR comédia no ar na TV? "Veep". Os episódios mais recentes da atração são tão bons que dá para responder a essa pergunta controversa na lata.
Não era assim nas duas primeiras temporadas. Embora a série sobre uma vice-presidente desocupada e propensa a gafes (Julia Louis-Dreyfus) tenha tido ótimos momentos, as piadas miravam a política dos EUA, o que reduzia seu apelo.
Agora não. A política continua no cardápio, mas em seus aspectos mais universais. As piadas, metralhadas sem dó, não escolhem alvo nem respeitam o politicamente correto.
Só o vazio do cargo de vice-presidente é um tema recorrente (e, ainda assim, funciona). Ajuda, também, que o criador da série, o ítalo-escocês Armando Iannucci, não se iniba de fazer troça com Washington.
O texto é tão bom que as piadas aceleram da ironia fina e sacadas de costumes aos tropeços de um pastelão e os xingamentos de baixo calão com apelo adolescente na mesma cena, sem trepidação, como se fosse simples encaixar todos os tipos de humor em um script. O resultado? Gargalhadas histéricas.
E pontos na audiência.
A atual temporada conquistou sua melhor marca até agora (1,5 milhão de espectadores, razoável para uma comédia na TV paga nos Estados Unidos), uma capa da revista "Rolling Stone" e um lugar fixo nas referências pop americanas.
Divulgação/HBO | ||
Selina Meyer (Julia Louis-Dreyfus) e Gary Walsh (Tony Hale) em 'Veep' |
Um dos motivos foi a decisão de Iannucci de tirar os personagens da zona de conforto. A vice-presidente Selina Meyers agora está em campanha para se candidatar à Presidência e passa a maior parte do tempo fora do distrito federal.
Jonah (Timothy Simons), o assessor da Casa Branca que lida com a Vice-Presidência, é demitido; o assistente adulador Gary (Tony Hale) é proibido de carregar as coisas da patroa; Amy (Anna Chlumsky), chefe de gabinete, perde poder; e o azarado assessor de imprensa Mike (Matt Walsh) finalmente está feliz. Isso refrescou o enredo e tirou qualquer arreio que restasse no elenco.
A trupe, boa de improviso, responde pela outra parcela de sucesso da série. Aos 53, Louis-Dreyfus, por nove anos a Elaine da genial "Seinfeld", é a melhor comediante mulher dos EUA. Pequenina e refinada, pode fazer corar um Louis C.K. sem perder a pose.
Seu humor é rápido e ferino, e sua Selina tem, simultaneamente, a aura cool de Elaine e a mesquinharia de seu amigo George Constanza.
O personagem Jonah, do estreante Timothy Simons, um grandalhão desajeitado e imaturo, é tão bom que virou adjetivo em Washington e lhe rendeu convites para seis filmes.
Hale, o Buster de "Arrested Development", levou um Emmy (Louis-Dreyfus também ganhou). Walsh, mais de cem créditos no currículo, inspira pena e repulsa, e Chlumsky tem um timing cômico insuspeito para a garotinha que estrelou "Meu Primeiro Amor". Até o engomado Dan (Reid Scott) caiu no gosto dos assessores políticos.
A quarta temporada já foi confirmada pela HBO. Se a política de verdade não dá motivos para rir, que nos esbaldemos na ficção.
"Veep" é exibida às segundas-feiras, 22h, pela HBO.
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade