É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.
'The Killing' ganha sobrevida na Netflix
A QUANTAS reviravoltas uma série pode sobreviver?
No caso de "The Killing", cuja quarta temporada o Netflix pôs no ar na sexta (1º), essa pergunta vale para o roteiro, com idas e vindas talhadas para surpreender, e também para a sobrevida da produção.
Inspirado na dinamarquesa "Forbrydelsen" ("o assassinato"), o drama policial sobre um par de detetives obsessivos cuja vida é tomada pela investigação de matanças misteriosas já teve a morte anunciada duas vezes pela TV americana.
Graças à disposição da Netflix em ampliar seu portfólio de produções originais, porém, a série produzida pela Fox e antes pelo canal AMC (de "Breaking Bad" e "Walking Dead") volta como projeto especial do serviço de TV sob demanda. Até segunda ordem, pelo o que foi anunciado, essa será sua temporada derradeira.
Este último ano das desventuras de Sarah Linden e Stephen Holder (Mireille Enos e Joel Kinnaman) é enxuto, com apenas seis episódios. Retoma a história no ponto em que a temporada anterior parou, com a chocante resolução do caso de um matador de adolescentes fugidas e o dilema criado para a dupla.
Frank Ockenfels/Divulgação | ||
Joel Kinnaman e Mireille Enos na última temporada de 'The Killing'' |
Não que eles tenham tempo para pensar. Logo são chamados a investigar o assassinato de uma família abastada -pais, filha adolescente e filha pequena- aparentemente pelo primogênito da casa (Tyler Ross), um cadete tímido que parece ter tentado se matar em seguida.
"The Killing" sobressai com as atuações, e não só de Enos e Kinnaman, dois nomes que mereciam ser mais conhecidos pelo público.
A temporada anterior trouxe o ótimo Peter Sarsgaard ("Kinsey") como um condenado à morte; esta apresenta a delicada Joan Allen (trilogia Bourne e "Tempestade de Gelo") como a diretora linha-dura da academia militar onde o rapaz estudava. Fria e comedida, a Margaret O'Neal vivida por Allen é a antagonista à altura da árida Linden de Mireille Enos.
Como das outras vezes, é de se esperar que nada seja o que parece.
Talvez esteja aí a maior falha de "The Killing": desde a primeira temporada, as reviravoltas são tantas, e tão bruscas, que a essa altura já passamos a contar com elas.
Os crimes, contudo, sempre foram apenas a desculpa para manter o espectador atento. Sóbria e seca como a original dinamarquesa, com a transposição quase perfeita do vento gelado de Copenhague para a chuva contínua de Seattle, "The Killing" interessa mais pelo tom e pelo mergulho no redemoinho que é a personalidade dos protagonistas.
Se os assassinatos se tornam mais brutos e soturnos, assim também ficam Linden e Holden, com obsessões, traumas e compulsões aflorando a cada dia novo de trabalho.
As idas e vindas, entretanto, parecem ter cansado o público americano, e a audiência murchou, o que explica os cancelamentos. A outra possibilidade é que a mistura de perversidade e sobriedade da série foi nórdica demais para a TV dos EUA.
As quatro temporadas de "The Killing" estão disponíveis na Netflix.
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