É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.
Chaves pertence ao mundo de Didi, Chaplin e Peter Sellers
Quem cresceu nos anos 70 e 80 (e 90 e 2000) tem o seriado mexicano "Chaves" guardado em sua memória afetiva, naquela categoria de coisas às quais basta uma rápida visita ou mesmo uma lembrança para submergir, por alguns minutos, em um tempo que a vida era mais simples e mais alegre.
É a esse tempo que pertence seu criador e protagonista, Roberto Bolaños, morto nesta sexta-feira, aos 85 anos. Um tempo paralelo, ao qual ainda pertencem o brasileiro Renato Aragão e seu Didi (que logo ele possa voltar a ativa), o imortal Charles Chaplin e seu vagabundo; e outro inglês brilhante, Peter Sellers, pelo jardineiro Chance.
É verdade que o humor de Bolaños soará quase sempre menos sofisticado que o dos outros três (suas qualidades como ator certamente eram), mas isso não o diminui.
A tosquice dos cenários e figurinos de "Chaves" e "Chapolin", o aspecto quase circense, mambembe mesmo, da trupe que deu vida a Dona Florinda, Seu Madruga, Kiko, Chiquinha, Seu Barriga e a Bruxa do 71, só reforçam a mítica em torno do seriado, alimentada pela reprise à exaustão pelo SBT nas últimas três décadas.
A série durou só sete anos, de 1973 a 1980, mas a repetição faz com que pareçam 70, tornando Bolaños um companheiro constante de ao menos duas gerações -a mais velha delas lançada a um culto a seu nome com o mesmo entusiasmo dedicado a almanaques e longos posts no Facebook sobre memórias dos anos 80, de coisas que eram "ruins, mas eram boas".
O que era bom em Chaves? Sobretudo, a despretensão e o humor nonsense, duas coisas em falta hoje, cristalizadas em bordões tão bobos como verdadeiros como o adorável "foi sem querer querendo" (quem nunca?).
Não era para ser sério, não era para ser bom. Nem para refletir. Era para rir, apenas.
Mas há algo profundamente humano ali, capaz de fazer rir da mesma forma criança e adulto (bom, ao menos um que não se leve tão a sério).
E, há de se admitir, um quê genial em capturar estereótipos/personagens com os quais todos já nos deparamos, ou nos identificamos, em diferentes situações e fases da vida. Como só os grandes palhaços, os melhores palhaços, são capazes de fazer.
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