Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Luciana Coelho

Com hip-hop e intriga, 'Empire' vira febre

DE SÃO PAULO

Um novelão cheio de intriga, traições, alianças fortuitas e disputa por poder fisgou o público americano, embalado por hip-hop, um elenco carismático e um diretor ambicioso. É "Empire", série que a Fox estreou nos EUA em janeiro e que por aqui ainda não tem planos de exibir.

Parâmetros: o final da cultuada "Lost" teve audiência de 13 milhões de pessoas. O sexto episódio de "Empire", na última quarta, atraiu 12,9 milhões. Se considerarmos que, no intervalo de quase cinco anos entre as duas, o público da TV só ficou mais difuso, não é exagero falar em fenômeno. "Modern Family", um hit, reúne 8,8 milhões de pessoas.

Não é difícil entender o sucesso de "Empire", cuja trama revolve em torno do fundador de uma bem-sucedida gravadora de hip-hop na Filadélfia que, ao se descobrir com uma doença fatal, decide escolher entre os três filhos um herdeiro para seus negócios. A série é sobre essa disputa informal na família.

Não se trata de entretenimento de altíssima qualidade, com subtramas sutis e mensagens profundas ou significados ocultos, que revigorou a TV nos últimos anos. Mas a fórmula meio Shakespeare ("Rei Lear") meio novela mexicana, com direito a vilões clássicos, mocinhos e reviravoltas, envolve o espectador com os personagens e o faz torcer, ansioso pelo próximo episódio.

Ao contrário do que tem ocorrido com a maior parte das novas séries, a audiência sobe a cada episódio, e os comentários no Twitter também (615 mil durante o último, conforme estimou o instituto Nielsen).

Há buracos no roteiro, e acompanhar a série pode parecer aquele tipo de prazer com culpa (como algo à primeira vista ruim pode ser tão viciante? Shakespeare e Glória Magadan, sério?). Nada que o magnetismo do elenco e o apelo da fórmula familiar não façam esquecer.

Lucious Lyon, o músico genial e pobre convertido em magnata da indústria musical é o ótimo Terrence Howard (indicado ao Oscar em 2006 por "Ritmo de um Sonho"). Cookie, a ex-mulher que sai da cadeia disposta a retomar o lugar na família e nos negócios, é um papel que deve dar o prêmio Emmy para a desconhecida Taraji P. Henson.

E há participações especiais o bastante para agradar quem gosta de estrelas, ao menos estrelas dos anos 1990: Cuba Gooding Jr., Courtney Love, Naomi Campbell.

A fórmula do diretor-roteirista Lee Daniels, de "Preciosa", pode às vezes parecer básica, diluída em um universo numeroso de personagens e em arquétipos batidos: os três filhos –o primogênito ambicioso; o do meio, sensível, que busca a aprovação do pai; e o caçula mimado porém talentoso– parecem paridos em uma cartilha de roteiros.

Negro e gay, Daniels soube infundir nesse prato para as massas questões raciais, culturais e comportamentais que o tiram do lugar comum sem recair em lições de moral que costumam afugentar o público mais amplo. Até agora, deu certo.

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