Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Luciana Coelho

Diretores de 'Matrix' fazem boa estreia em séries com 'Sense8'

Não se pode dizer que os irmãos Wachowski, Andy e Lana, tenham saído incólumes perante crítica e espectadores de sua primeira experiência com séries. Mas aquilo que deu a dupla o reconhecimento global na trilogia "Matrix" (1999-2003) ainda está presente e faz diferença.

"Sense8" (lê-se "sensate", como uma palavra só), que estreou no Site de vídeos por demanda Netflix no último dia 5, tem falhas.

A maior delas é o caótico episódio estreia, quando, no afã de apresentar todos os dez personagens centrais (biografias rocambolescas e pulverização geográfica incluídos) em apenas uma hora, a série confunde e aborrece, como se fosse apenas um monte de filmetes mal alinhavados.

Persista, pois. Conforme se avança na história de oito jovens na faixa dos 30 anos que mantêm entre si uma conexão psíquica extrapoderosa, mais se penetra no mundo wachowskiano de distopia, heróis caídos, perseguições alucinadas, inimigos ocultos e aparências dúbias.

Internacionalistas apreciarão as múltiplas locações usadas nas filmagens, todas genuínas.

Os oito do título são o policial Will (Brian J. Smith) e a blogueira política Nomi (Jamie Clayton), ambos americanos; o galã mexicano Lito (Miguel Ángel Silvestre); a executiva coreana Sun (Doona Bae); o motorista de van queniano Capheus (Aml Ameen), a DJ islandesa Riley (Tuppence Middleton); a química indiana Kala (Tina Desai) e o ladrão alemão Wolgang (Max Riemelt).

Todos são figuras marginalizadas; seja pela orientação sexual, pelo machismo, pela pobreza ou pela honestidade onde só o crime prospera. De formas mais ou menos bem-sucedidas, todos querem se integrar ou encontrar semelhantes.

Esse time de párias percebe sua conexão quando a aparente mãe do grupo morre, no primeiro episódio. Daí por diante, a imagem da personagem de Daryl Hannah ("Kill Bill", "Blade Runner") vai assombrar os protagonistas, junto com um sujeito misterioso que atende por Jonas e detém o mesmo poder psíquico (Naveen Andrews, o Said de "Lost").

Conforme a ligação fica mais evidente, eles começam a ver uns aos outro e a compartilhar habilidades e sensações. A trama cresce em espiral, com um mistério levando a outro maior, o que torna o material excelente para maratona -os 12 episódios já estão no ar.

É possível, também, ler a narrativa como uma alegoria do narcisismo, a busca do espelho do eu no outro, algo tão atual em tempos de redes sociais onde o que mais se busca é eco e validação.

Ação continua a ser o forte da dupla, seguida pela provocação filosófica. Embora as cenas de romance pudessem ser melhores, não se pode acusar os Wachowski ou o Netflix de falta de ousadia ao explorar os encontros sexuais da turma.

(A personagem transgênero Nomi, vivida pela atriz transgênero Jamie Clayton, serve bem de alter ego a Lana, que assumiu a identidade de mulher apenas em 2012.)

"Sense8" está disponível no Netflix

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