É editora de 'Mundo' e foi correspondente em Nova York, Genebra e Washington. Escreve às sextas sobre séries de TV.
'Fargo' supera carma de 'True Detective'
É inevitável que séries no formato "antologia" –uma história fechada a cada temporada, sem sequência com anos anteriores– tenha altos e baixos mais agudos do que seriados convencionais. Sem a linha narrativa à qual o espectador se apegou, as decepções acabam por se tornar imperdoáveis.
Desse mal sofre "American Horror Story" e, de forma desastrosa, a segunda temporada de "True Detective", um arremedo da primeira (essa, sim, inovadora e intrigante).
Logo, é um alívio constatar que "Fargo", uma das melhores coisas exibidas pela TV em 2014, tenha voltado ao ar em outubro nos EUA com o mesmo vigor narrativo e a estética impecável da temporada inicial.
Ainda que o elenco seja outro, a sensação após os primeiros três episódios é a de receber de volta um amigo querido cujas novidades estamos ansiosos para ouvir.
Mathias Clamer/FX | ||
Kirsten Dunst como Peggy Blomquist em "Fargo" |
E as novidades chegam com Kirsten Dunst (de "Virgens Suicidas", aqui em seu melhor papel), Jesse Plemons (o estranho Todd de "Breaking Bad"), Patrick Wilson (memorável como o bonitão conquistado por Hannah na segunda temporada de "Girls") e Ted Danson ("Cheers", eternamente), que conduzem o novo capítulo pelo pitoresco universo de tipos comezinhos dos irmãos cineastas Joel e Ethan Coen.
O tempo volta para 1979, 27 anos antes dos fatos "reais" retratados na primeira temporada, para encontrar a policial que faz as vezes de mocinha em 2014, Molly Solverson (Allison Tolman), ainda menina.
O cenário, porém, é o mesmo do filme de 1996 dos Coen e da temporada anterior: o gelado interior de Minnesota e Dakota do Norte, Estados perdidos no centro-norte dos EUA habitados por gente que as campanhas políticas adoram descrever como "simples" e "real", mas cuja propensão à violência e a mesquinharias diárias pouco difere da dos habitantes de grandes cidades.
A calmaria, em Fargo, está só nas paisagens bucólicas.
Na primeira temporada, quem dava início à sombria comédia de erros era Lester, o banana que se mostra incrivelmente vil interpretado por Martin Freeman.
Agora é Peggy (Dunst), que, depois de um incidente envolvendo o caçula de uma importante família mafiosa (Kieran Culkin), recorre ao marido (Plemons, um ator que merece cada vez mais atenção) e com ele adentra aquele já conhecido mundo de assassinatos, máfias e sempre ilibados policiais locais.
O xerife em 1979 é Hank Larsson (Danson, envelhecido), que tem como braço-direito o genro Lou Solverson (Wilson), o pai de Molly. E os incidentes fantásticos, desta vez, não advêm apenas de bandidos forasteiros, mas de visitantes bem mais especiais que trarão à trama um certo ar datado –e reconfortante– de "Além da Imaginação".
O mistério maior, porém, é por que nenhum canal brasileiro tem planos para exibir a série.
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