Quando saíram em dezembro os finalistas do Globo de Ouro, premiação que ocorre na noite deste domingo (10), um nome chamou atenção no clubinho de velhos e novos megaprodutores brigando pelas cada vez mais prestigiadas categorias de TV.
Foi o do site de streaming Hulu, pouco conhecido no Brasil, mas que tenta, há oito anos e sem grande sucesso, brigar por espaço nos EUA com a Netflix e que tem por trás 3 dos 4 maiores canais abertos de TV do país: ABC (da Disney), NBC e Fox.
Indicado com a série "Casual" na categoria de comédias, a joint venture dá fôlego à tentativa de reposicionamento dos dinossauros televisivos entre os vorazes e mais ágeis HBO, Netflix e Amazon. (Como se vê, é uma história em que não há peixe pequeno, na qual o uso do adjetivo "independente" deveria se limitar a ousadias e liberdades criativas e não a orçamentos e estúdios.)
"Casual" sobressaiu porque, ao menos na amostra do Globo de Ouro, 2015 foi ruim para rir. O páreo se resume a "Veep" e "Silicon Valley" (as melhores das indicadas, ambas da HBO), as dramáticas "Orange is the New Black" (Netflix) e "Transparent" (Amazon) e a enfadonha "Mozart in the Jungle" (Amazon). Faltou a excelente "Master of None" (Netflix).
Que bom, pois se trata de surpresa grata, uma história que cresce ao longo de seus dez episódios.
À primeira vista, é mais uma comédia familiar temperada por desventuras amorosas-sexuais dos protagonistas, neste caso um par de irmãos e a filha/sobrinha adolescente. Conforme a história corre, o foco recai sobre as relações fraternais e sua peculiar dinâmica criada por pais obviamente desajustados.
"Casual" tem a mão leve e esperta de Jason Reitman, o diretor dos adoráveis "Juno" (2007) e "Amor Sem Escalas" (2009) e do ácido "Obrigado por Fumar" (2005), que assina a produção e pilota os dois primeiros episódios.
Como seus filmes, a série é permeada por um misto de ternura e cinismo cuidadosamente usado para criticar nossa cultura contemporânea. Como seus filmes, a história é de gente bonita e neurótica, sem problemas materiais, mas infinitamente sozinha quando se descasca as últimas camadas de aparências.
Michaela Watkins (você reconhecerá o nariz de suas muitas pontas em outras séries) e Tommy Dewey estão afinados como os irmãos Val e Alex, ela uma psicóloga divorciada controladora e ele o programador que criou e enriqueceu com um site de relacionamento mas é incapaz de manter laços fora da família.
Tara Lynne Barr não compromete como Laura, a filha de Val tentando a todo custo amadurecer.
Mas é com a chegada de Dawn, a mãe ausente da dupla, que a série cresce e envolve. Frances Conroy, a mãe de "A Sete Palmos", merecia um prêmio pelo papel.
Com seus personagens habilmente construídos e precisa no texto, "Casual" estava passando fora do radar de crítica e público —premiações, às vezes, podem ser úteis.
"Casual", do Hulu, está à venda no iTunes/EUA
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