Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Luciana Coelho

'The End of the F***ing World', na Netflix, é ótima comédia de erros

Crédito: Netflix Alyssa (Jessica Barden) e James (Alex Lawther) em "The End of the F***ing World", da Netflix (Netflix) ORG XMIT: NYET654

Bebe muito nos filmes independentes americanos a excelente "The End of the F***ing World" (algo como "o fim da p*a do mundo"), uma ágil comédia de humor negro produzida pela BBC e disponível no Brasil desde a semana passada na Netflix.

O toque sarcástico típico dos britânicos, porém, só faz bem a esse enredo provocativo sobre dois adolescentes extremamente entediados com a vida, Alyssa e James, que fogem de casa com intuitos diferentes: ela, escapar do cotidiano fútil da mãe e do padrasto e reencontrar o pai ausente; ele, matá-la, para ver se consegue "sentir alguma coisa".

Há uma série de elementos clássicos das histórias de formação, ou "coming of age" para os anglófonos, o despertar para a maturidade e a dificuldade em lidar com essa fase. Alyssa (Jessica Barden) e James (Alex Lawther) são os típicos desajustados, que se sentem por fora dos modelos e expectativas convencionais embora não necessariamente sejam entendidos assim pela sociedade, o que só amplia sua angústia.

Imaturos, estão prestes a descobrir o amor. É um enorme clichê que, no roteiro de Jonathan Entwistle, um diretor de comerciais de 33 anos que migrou sem escala dos curtas para a série, ganha vigor ao ser contado de maneira sutil e extremamente cética, sem aquela pieguice das séries adolescentes em geral.

De certa forma, "The End of the F***ing World", com sua fieira de desastres, mortes e uma narração em off cheia de perturbações pode ser assistido como uma comédia de erros na elegante tradição dos irmãos Coen ("Barton Fink", "Arizona Nunca Mais", "Fargo"). Os personagens, contudo, parecem extraídos de produções capitaneadas por Judd Apatow, o que leva a série a alcançar um público bem além do adolescente.

Na essência, trata-se de uma reflexão sobre o tédio dessa fase da vida e da necessidade de se achar um rumo, algo típico da adolescência mas não exclusivo dela.

Muito da força de "The End..." está no carisma dos personagens centrais, interpretados com entrega por Barden e Lawther (ele, visto recentemente como o protagonista do episódio de "Black Mirror" sobre chantagem on-line, "Shut Up and Dance"). Mas a situação pouco convencional, ainda que verossímil, escolhida para costurar o enredo também traz um frescor bem-vindo a um subgênero tão recauchutado.

Isso é reforçado pelo conjunto de coadjuvantes acima da média –o pai de James (Steve Oram) e as policiais que buscam os dois (Wunmi Mosaku e Gemma Whelan, a Yara de "Game of Thrones").

A edição em oito episódios curtos, cada um com 25 minutos, serve bem ao roteiro e contribui para tornar a história cativante, sem maiores excessos. A contraposição dos diálogos com a narração ajudam a tornar a epopeia de Alyssa e James mais universal, mesmo que eles estejam metidos em situações nas quais poucos de nós nos veremos.

E, num arremate delicioso, há a trilha sonora composta de canções de bandas de rock indie (há uma playlist da série no Spotify, recomenda-se) que casam perfeitamente com a peregrinação do par central em busca de um propósito.


"The End of F***ing World" está disponível na Netflix

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