É jornalista de cultura pop, editor do blog Popload, no UOL, colaborador da "Ilustrada", mas acha que no fim gosta mais de futebol do que de música.
Cuca, um brasileiro
Há um modo torto de explicar o futebol brasileiro atual, a seleção, o Corinthians campeão mundial, o Palmeiras perdendo em casa do lanterna da segunda divisão (agora não mais lanterna graças ao Palmeiras) sob a ótica do Atlético-MG, do técnico Cuca. Veja se eu viajo.
Com a Libertadores no horizonte, o Galo é o único "orgulho" nacional na competição, ao mesmo tempo em que é o penúltimo colocado nacional neste início (jogo a menos e tal).
É o melhor time do Brasil, mas esse "encantador" melhor time do Brasil foi salvo por um milagre contra um time que nem é o melhor do México. Isso em casa, no Horto, onde cair é estar morto, como canta a torcida, que chorou muito num minuto e chorou mais ainda três minutos depois, não pela mesma razão.
O time agora vê um preocupante hiato entre o aflitivo jogo contra o Tijuana (espécie de Batalha dos Aflitos misturada à semifinal Corinthians x Palmeiras de 2000) e o primeiro jogo da semi contra os argentinos do Newell's Old Boys.
E várias questões vão ter que ser trabalhadas nesse meio-tempo, com um Brasileirão no caminho: o Atlético teria cansado e perdido o encanto? A volta vai ter ou não Bernard? Ronaldinho aguenta um mês de Brasileirão fase chocha, sem jogar a competição continental nevrálgica? Como vai estar o Newell's para os jogos contra o Galo, já que o Clausura, do qual é líder, vai estar recém-concluído e o time vai poder entrar com tudo na fase final da Libertadores, talvez com moral de campeão?
Acho que respostas para essas questões vão depender menos de Ronaldinho e cia. e mais do técnico Cuca e sua habilidade de treinador ou de administrador de situações.
O mesmo Cuca que, aos olhos do torcedor, está em algum lugar entre ser o melhor técnico do Brasil e o pior técnico do Brasil. Muito pela fama de azarado. Assuntos esses (o quão bom e o quão azarado ele é) que já causaram discussão acalorada numa mesa redonda na TV.
Cuca é o futebol brasileiro. Ele vive uma fase curiosíssima. Comanda a hoje principal equipe do país rumo a uma conquista internacional importante.
Acaba de dar a maior sorte do mundo, o que bota em xeque seu velho estigma, se é que coisas desse tipo se sobressaem no futebol.
No reino brasileiro dos treinadores "top", Cuca, que nunca foi considerado um deles, brilha sozinho. Felipão, o técnico da seleção, é chamado de burro até quando o time joga (até que) bem.
O papa-títulos Muricy foi demitido. Luxemburgo e Abel não andam com muito prestígio, e seus dois clubes deixam Mano Menezes, sem emprego, de sobreaviso. Tite anda de ressaca. Paulo Autuori, que há muito não justifica sua fama de "professor", está com um time-problema na mão. Sobraram poucos. Sobrou o Cuca. Mais até do que o Atlético, o Cuca é o Brasil.
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