É jornalista de cultura pop, editor do blog Popload, no UOL, colaborador da "Ilustrada", mas acha que no fim gosta mais de futebol do que de música.
Boy magia
Lembro-me de pelo menos três piadas com o meia chileno Valdivia na época das manifestações populares que chacoalharam a política nacional. Uma era que ele foi às ruas protestar contra o aumento do ônibus e logo no começo da caminhada sentiu a coxa e iria desfalcar o Palmeiras por mais seis meses.
Outra, menos besta, não menos tosca, era visual: em foto armada, Valdivia segurava uma placa dizendo "Menos dinheiro no futebol e mais nos hospitais". A placa era sobre a indignação de alguns sobre o dinheiro gasto na Copa das Confederações e no Mundial de 2014. Mas combinava à época com o clamor do povo, em geral, e com a situação do jogador, em particular.
Tanto que outro meme ficou famoso e foi até parar no texto do José Simão, nesta Folha: "Não é pelos 20 centavos, é pelos R$ 500 mil que o Valdivia ganha e não joga".
Maior ídolo do Palmeiras, Valdivia era piada até dentro do próprio clube. De piada passou a estorvo. Em sua volta ao clube, desde 2010, mais ficou fora do que jogou.
Machucou-se inúmeras vezes, desfalcava por indisciplina e, quando estava inteiro e bem, deixava o Palmeiras para ir jogar pelo Chile.
Ficou fora da finalíssima da Copa do Brasil de 2012, o momento mais importante do clube nos últimos anos. Não esteve em campo para ajudar o time a fugir do rebaixamento. Sua participação na Libertadores de 2013 foi quase nula.
Valdivia deixou de existir aos palmeirenses, mas não deixou de custar. A nova diretoria cogitou vendê-lo assim que ele voltasse a ser um digamos... jogador normal.
Pois bem, para variar Valdivia não joga hoje pelo Palmeiras em São Caetano. Mas a situação agora é outra. Ele queria, mas a comissão técnica é que quer poupá-lo. A torcida entende e apoia a ausência.
A coisa virou para Valdivia. De jogador com quem não se podia contar, ele é a grande esperança do retorno do Palmeiras à Série A e de boa campanha na Copa do Brasil.
Arrisco a dizer, está na melhor fase da carreira, mais até que na primeira fase de Palmeiras, quando o título de "Mago" estampou até camisetas comemorativas a seu futebol.
Valdivia nem jogou todas as partidas do clube na segundona, mas, quando o fez, nos últimos seis confrontos seguidos, mostrou que o Palmeiras não pertence a ela.
Em que pese a B não ser a A, Valdivia tem desequilibrado jogos sequenciais com dribles para frente, passes incríveis, gols bonitos quando não decisivos. Tem sofrido pênalti, arranca amarelos e vermelhos dos rivais. E, mais importante, não tem se machucado. Toc toc toc.
Nas voltas que o futebol dá, Valdivia acaba de ser convocado pelo Chile. O técnico da seleção até veio vê-lo em São Paulo. Barcos, ex-ídolo que trocou o Palmeiras pelo Grêmio para se manter na Série A e "convocável" pela Argentina, não foi mais chamado. Ironia ou magia?
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