Viajante crônico e autor dos livros eletrônicos 'As Crônicas Mundanas de Glupt!' e 'Vinhos que cabem no seu bolso'. Escreve aos domingos.
Começou o treino para o Natal
Davi Ribeiro/Folhapress | ||
Bacalhau da Taberna da Esquina |
Eu não sei quando aconteceu, mas as pessoas não fazem mais ginástica, praticam esportes ou nadam, elas "treinam". Vários amigos vivem nesta função, treinando. Não sei bem para o que. No meu caso, com o "jingle bells" precoce que atacou a cidade, resolvi treinar para o Natal.
Na minha cabeça cheia de protocolos, o Natal começa em 10 de dezembro, quando se monta presépio e árvore, para quem é desse time. Eu sou. Mas sigo os ritmos, então é Natal. Essa é a primeira de uma série de duas colunas sobre o assunto. Hoje vou falar do que habitualmente como.
Peru para mim, quando vivo, é ave ornamental (nem tão bonita assim). Quando assado, enfeite. Acho a carne mais sem graça do mundo. Meu Natal tem tender, salpicão e pernil, este sim, suculento, cheiroso e saboroso. E bacalhau. Festa, celebração, grandes momentos, na minha opinião, têm bacalhau.
Comecei a pesquisar o onde e o como será o bacalhau de Natal. Ia comer num lugar, o trânsito e a chuva me levaram para outro. O charme de São Paulo é que não adianta planejar nada, a gente vai para o lugar que consegue e o resultado, com frequência, é bom.
Fui parar na Taberna da Esquina, do Vitor Sobral. Pesquisei o cardápio e fui me encantando por outras coisas.
Vitor tem essa virtude, faz uma comida autoral, mas com tanta sutileza que parece que são receitas clássicas. Não mistura por misturar, mas testa e o que apresenta dá certo.
Comi alheiras com quiabo de entrada, uma ótima ideia, perfeitamente executada. Não parece artificial, nada do estilo "vou colocar uns dois ingredientes brasileiros e invento uma cozinha luso-brasileira". Ele usa os produtos com moderação e sentido.
Ando cansado das invenções cuja razão é inventar (nem vou mencionar as aberrações, no estilo pizzas de coisas que não deveriam ser tentadas). Mas nada de feijoada de bacalhau ou alheiras de jiló. É comida portuguesa, tão boa quanto serve naquela sua esquina simpática em Lisboa, onde se vê o bonde Prazeres, fazendo uma curva que só os elétricos conseguem, quadrada.
E descobri lá um javali com purê de castanhas, preparado como um rosbife rosado. Javali sempre é uma coisa que mexe na imaginação, desde que Obelix comia aqueles inteiros como se fossem galetos. O da Taberna não é tão pantagruélico, mas saboroso.
Acabei trazendo o bacalhau para casa e comprei do salgado, vou continuar treinando.
E os vinhos para o bacalhau são a eterna discussão. Eu sou do grupo brancos, mas sugiro alguns brancos e tintos para quem quiser testar. Afinal, Natal é festa, não é dia para ficar discutindo harmonizações.
Como falta um tempo para a ceia, estou "treinando" receitas na minha nova vedete da cozinha, uma panela elétrica. Já produzi uma bacalhoada muito elogiada. Mas falta algo e vou refinar a produção.
Taberna da Esquina
Onde r. Bandeira Paulista, 812, Itaim Bibi, tel. 3167-6489
Quando ter. a qui., das 12h às 15h e das 19h às 23h30; sex., das 12h às 15h e 19h às 0h. sáb., das 12h às 16h e 19h às 0h; dom., das 12h às 17h
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Beba o que te faz bem
Aproveitei o tema e provei uns vinhos que não conhecia. Gostei mais com o bacalhau do Fóssil, um branco bem mineral e com corpinho para enfrentar o peixe.
Sei que a população vai discordar, sempre sinto um gostinho amargo no choque bacalhau e tinto. Mas como o vinho dos almoços de sexta na minha família era um verde tinto com bacalhau, não discuto, pois tenho telhado de vidro. Verde tinto é "acquired taste", parece uma lixa passando na sua língua, e mesmo assim, gostavam muito.
A proposta é a habitual, comprem um tinto e um branco e façam seus testes. E o javali ficou maravilhoso com o Pinha tinto. Então, vinho não sobrará.
Voltarei ao assunto mesa de Natal e seus vinhos, em breve, antes do dia da comilança.
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Vinhos da semana
Divulgação | ||
Ribeira Santa Pinha Branco R$ 69 (na Winebrands)
Ribeira Santa Pinha Tinto R$ 69 (na Winebrands)
Fossil R$ 99,50 (na Enoteca Don)
Vale da Capucha R$ 149,50 (na Enoteca Don)
*valores de referência
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