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luiz caversan

 

15/07/2006 - 00h00

A necessidade de sentir medo

Sempre fomos o país do tudo bem, tudo legal. Beleza. Tudo em cima. Nós nos acostumamos há tempos a desfrutar da nossa própria capacidade de trivialmente nos divertirmos, compartilhar alegrias, festejar a vida, enfim.

Nós, claro, os incluídos.

Você que tem computador para ler isso aqui, ou ao menos dispõe do acesso a uma máquina. Basicamente você que lê, porque ler, buscar a leitura, querer buscar a leitura, poder buscar a leitura é um privilégio de poucos neste país cosmopolitanamente jeca.

Uns três anos atrás, o escritor Ferréz, ícone letrado do Capão Redondo, região barra pesada de São Paulo, me disse que os jovens do pedaço passavam o dia inteiro perambulando por lá, pelas quebradas, barrocas, esquinas, biroscas e bocas, porque simplesmente não tinham absolutamente nada para fazer. Nada. Sem uma casa decente, sem emprego, sem dinheiro nem sequer para pagar uma passagem de ônibus, muitos deles, não apenas do Capão, mas de muitas outras periferias desvalidadas dessa metrópole excludente, nunca tinham ido ao centro da cidade.

Agora eles têm saído de lá, sim, e basta ler a manchete dos jornais para perceber que o que os bandidos minimamente organizados têm feito com aqueles que não têm nada a perder. Tacar fogo no ônibus cuja passagem eles não tem dinheiro para pagar é o mínimo que, nessa lógica cruel, poderia acontecer.

Ontem ouvi no rádio algum especialista falando que um monte por cento da população carcerária de São Paulo não terminou o primeiro grau. Duas conclusões possíveis, dependendo do ponto de vista de quem analisa: 1) além de bandido é analfabeto. 2) Se não fosse analfabeto teria alguma chance de não ser bandido.

Mas a maioria das pessoas comuns desta cidade, não todas, mas aquelas com quem falo, que lêem o que está escrito em computadores, tem medo. Medo "deles", como se eles não fossem também nós.

Resultado de nossa inépcia como Estado, como governo, como povo, que isola, exclui, esconde, marginaliza e depois chama de marginal.

Como se não tivesse nada a ver com isso.

Esse medo todo é obviamente a falta de coragem de encarar nosso fracasso e não ficar por aí botando a culpa em quem também tem.

Cada um que assuma a sua, isso já é um bom começo.

Sempre que escrevo aqui sobre a doce Monja Coen, a repercussão é ótima. A esses interessados, e a outros mais, uma boa chance de ouvir a líder espiritual budista, para quem o caminho da paz se busca em meio à guerra mesmo: ela será a entrevistada desta segunda-feira, dia 17, do programa Saca Rolha (com Marcelo Taça, Mariana Weickert e Lobão), no Play TV (ex-21), com transmissão simultânea pela rádio Band News FM. É a partir das 23h30.

luiz caversan

Luiz Caversan é jornalista e consultor na área de comunicação corporativa. Foi repórter especial, diretor da sucursal do Rio da Folha, editor dos cadernos 'Cotidiano', 'Ilustrada' e 'Dinheiro', entre outras funções. Escreve aos sábados.

 

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