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luiz caversan

 

10/03/2007 - 00h00

Os olhos da mãe de Alana

Números são números, por mais que sejam muitos: 170 vítimas, seis só esta semana, 44 mortes, 35 crianças atingidas por "balas perdidas".

Isso agora, números recentes, de apenas uma cidade, Rio de Janeiro.

Podemos ficar nos números, só, e pensar seriamente que alguma coisa precisa ser feita, sofrer um pouco com isso, mas logo a frieza dos números nos afastará dessas aflições, de resto quase sempre passageiras

Mas podemos, ainda, para ficar apenas nos famigerados números, pensar que 13 anos tem a menina que ficou paraplégica em São Paulo, assim como 13, ou quase 13, tinha a outra menina, aquela morta no Rio e de quem falaremos mais adiante; assim como tinha 6 João Hélio, e que foram 7 os quilômetros pelos quais ele foi arrastado em sua via-crucis.

Vamos, porém, nos ater aos primeiros números, porque eles se referem a essa praga moderna, um mal, uma peste, algo de muito ruim e cuja cura ainda não foi descoberta, que são as "balas perdidas".

Uso aspas porque acho o nome péssimo; na verdade elas, as balas, fatídicas e macabras, podem perfeitamente ser encontradas, ou seu rastro detectado, no corpo de suas vítimas, elas sim perdidas.

E vamos definitivamente afastar os números chamando a atenção para os olhos de Edna Ezequiel pouco depois de ficar sabendo que sua pequena Alana, encontrada por uma maldita bala no Morro dos Macacos, no Rio, havia sucumbido (clique aqui para ver a foto).

Não há números, tampouco palavras, que possam substituir a dor desse olhar. A dor, o rancor, a raiva, a impotência, o nada que se possa fazer, porque, claro, é pobre, preta, a base da escala social mais desgraçada desse país --de resto, o que pode fazer uma mãe que perde uma filha, seja qual for a situação?

Quem olha bem nos olhos dela, sente a dor. Dá para sentir.

Não precisa estatística, basta o olhar de Edna Ezequiel, mãe de Alana...

E como desgraça pouca é bobagem, saiba que Edna não tinha dinheiro para enterrar a filha, precisou que recorressem a auxílios benemerentes. Sepultado o corpo da menina, não tinha forças para ir para casa. Amigos se cotizaram e arrumam um táxi.

Mas o motorista disse que, Morro dos Macacos, nem pensar!

Poderia levar a mulher (que, aliás, tem só 29 anos) apenas até um certo ponto do trajeto.

Para evitar as "balas perdidas"...

luiz caversan

Luiz Caversan é jornalista e consultor na área de comunicação corporativa. Foi repórter especial, diretor da sucursal do Rio da Folha, editor dos cadernos 'Cotidiano', 'Ilustrada' e 'Dinheiro', entre outras funções. Escreve aos sábados.

 

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