É planejadora financeira pessoal, diretora do Planejar e autora do livro 'Finanças Pessoais: o que Fazer com Meu Dinheiro'. Escreve às segundas.
Liquidez é o critério mais importante para avaliar investimento
Fernando de Almeida/Folhapress | ||
Quando comecei a estudar os princípios de investimentos, aprendi que existe um tripé que sustenta a decisão do investidor quando examina as alternativas disponíveis em busca da aplicação mais adequada: segurança, rentabilidade e liquidez. Aprendi também que esses atributos não andam juntos; quando o investidor privilegia um, abre mão de outro.
Segurança se refere ao nível de risco que estamos dispostos a correr. Dado o nível de risco aceitável, definimos a expectativa de rentabilidade. A liquidez indica se poderemos reaver o capital, quando quisermos, por um preço justo.
Para ordenar os atributos conforme sua importância relativa, teremos a seguinte sequência: liquidez, liquidez e liquidez, nessa ordem. Parece brincadeira, mas não é. Se não for possível reaver o capital investido, tudo cai por terra.
Os milhões de brasileiros que perderam o emprego e os pequenos e médios empresários que viram os negócios -e sua renda- dizimados pela crise aprenderam do jeito mais difícil a importância de ter dinheiro
em caixa para seguir a vida.
Recentemente examinei uma carteira de investimento (R$ 120 mil) composta por Tesouro IPCA, vencimento 2035, comprada com cupom de juros de 5% ao ano; cotas de fundo de investimento multimercado cujo resgate, quando solicitado, será feito 60 dias após a solicitação; e um COE de cinco anos que não permite resgate antes do vencimento.
Pedi ao investidor que supusesse necessidade emergencial de caixa de R$ 20 mil e perguntei que aplicação ele resgataria para gerar os recursos necessários. Foi quando ele se deu conta de que não havia dado
à liquidez a devida importância.
Investimento em imóveis, por exemplo, apreciado por investidores brasileiros, tem baixa liquidez. Pode levar meses (ou anos) para vender um imóvel. Mesmo que o imóvel seja ótimo, bem conservado, bem localizado, se o mercado estiver ruim, o investidor será obrigado a vendê-lo por um valor inferior ao preço justo.
Aplicações em ativos financeiros também estão sujeitas ao risco de liquidez. Vejamos exemplos, começando pela renda fixa. A poupança, preferência nacional, permite saque a qualquer momento, porém pune com perda dos rendimentos do último período os saques feitos fora da data de aniversário da conta.
Aplicações em CDB, LCA e LCI podem ser feitas com ou sem liquidez. Quando o investidor abre mão da liquidez durante um período de carência ou sobre todo o período da operação, a rentabilidade será maior. O banco pagará, por exemplo, 90% do CDI em uma LCI sem liquidez e 85% do CDI na mesma LCI com liquidez.
O Tesouro Nacional oferece liquidez diária aos títulos públicos. Entretanto o preço de venda dos títulos de taxa prefixada só será favorável ao investidor se a taxa de juros negociada na compra
se mantiver estável ou cair.
Embora a maioria dos fundos de investimento adote critério de conversão de cotas no mesmo dia ou dia seguinte ao pedido, alguns fundos, de mais risco, normalmente distribuídos somente a investidores qualificados, podem exigir alguns meses de carência para converter as cotas em dinheiro. Se o cotista não puder esperar, pagará uma multa, 5% por exemplo, prevista no regulamento. A lâmina (leitura obrigatória) traz essa informação.
Fundo imobiliário não admite resgate de cotas. Para recuperar o capital investido, o investidor deve vender suas cotas no mercado, pelo preço que o comprador (se houver) estiver disposto a pagar.
Investimentos em renda variável, seja pela aquisição de ações direto em Bolsa, seja pela adesão a fundos de investimento, são bastante líquidos. É possível, no limite, comprar e vender ações no mesmo dia. Liquidez alta para compensar o elevado risco de mercado (volatilidade no preço). A liquidez elevada não significa que a venda será feita por um bom preço. Muitas vezes, para alcançar o retorno esperado, é preciso esperar um momento mais favorável, que pode demorar meses ou anos.
Onde investir sua reserva financeira, aquele indispensável colchão de liquidez necessário para as emergências? Tesouro Selic; fundo DI; CDB, LCI, LCA sem carência. Poupança, observada a data de aniversário, também. Você receberá os juros do período decorrido da operação, sendo nula a chance de perder dinheiro em razão de flutuação de preço.
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