Jornalista foi correspondente em Londres, editor do 'Folhateen' e de Fotografia e diretor da sucursal Rio.
Escreve às quintas.
Temer no Maraca
RIO DE JANEIRO - Como tudo indica que Michel Temer será o presidente do país em 5 de agosto, ele tem cerca de quatro meses para evitar passar, no Maracanã, pelo mesmo constrangimento que Dilma Rousseff passou no Itaquerão em 2014, na abertura da Copa do Mundo. Boa sorte com isso.
Naquela ocasião, a presidente foi vaiada e xingada quatro vezes -voltaria a sê-lo na final, no mesmo estádio em que Temer deverá estar como chefe de Estado durante a abertura da Rio 2016. O governo Dilma era então considerado bom ou ótimo por 33% dos brasileiros, segundo o Datafolha; o mesmo instituto mostrou que 35% da população crê que o futuro governo Temer será ruim/péssimo -outros 35% preveem que será regular.
Fora más expectativas, há uma boa chance de que os cidadãos fluminenses lhe sejam hostis no mínimo por antipatia indireta: seus correligionários do PMDB dominam o Estado há mais de dez anos e levaram o Rio à sua pior situação em décadas.
Por fim, há a Lava Jato, que já sinalizou que tem bala para atingir vários apoiadores de Temer, além dele mesmo -e algumas das denúncias de corrupção estão diretamente ligadas à Olimpíada, como os documentos da Odebrecht que indicaram que o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) foi beneficiário de propina de R$ 2,5 milhões vinculada às obras da olímpica linha 4 do metrô do Rio.
Assustado, mas não querendo passar recibo, o COI (Comitê Olímpico Internacional) afirmou que a crise política não interfere na preparação para os Jogos e que o evento é uma "oportunidade importante para unir o povo do Brasil, não importando sua visão política". Olhando daqui, a quatro meses de distância, parece que as probabilidades de união da torcida são grandes mesmo, não exatamente da forma como o COI sonha, mas numa vaia contra o próximo presidente.
marco.canonico@grupofolha.com.br
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