Marcos Sawaya Jank

É professor sênior de agronegócio global do Insper e titular da Cátedra Luiz de Queiroz da Esalq-USP em 2019.

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Marcos Sawaya Jank

O que esperar do agro em 2018 e além

Crédito: Wang Peng - 1º.jul.17/Xinhua (170701) -- YINCHUAN, July 1, 2017 (Xinhua) -- Villagers harvest vegetable in Yaomo Village, Guyuan City of northwest China's Ningxia Hui Autonomous Region, June 30, 2017. The vegetable that requires cool weather grows well in high-altitude regions such as northwest China's Ningxia. Growing these kinds of vegetable has become a new way for poverty alleviation in Yaomo Village of Guyuan, which increased the income of local farmers. (Xinhua/Wang Peng) (zwx)
Camponeses colhem verduras na região autônoma de Ningxia, na China

Três tendências do agronegócio global vão marcar o ano de 2018 e deveriam nortear nossas análises e políticas no Brasil:

1. "Incertezas e riscos crescentes, mas aumentam as oportunidades nos países emergentes"

O mundo definitivamente entrou num ciclo perigoso de riscos e incertezas: terrorismo, rearmamento, lideranças imprevisíveis, protecionismo, acordos plurilaterais em xeque (OMC, acordo do clima, "brexit", TPP) e migrações maciças. O número de migrantes dobrou em dez anos, para 66 milhões de pessoas em 2017.

Pessoas protestam porque não têm o que comer em países destroçados por guerras, conflitos étnicos e ditaduras corruptas. Foi assim nas revoluções populares da Primavera Árabe de 2011. Foi assim nas manifestações de rua que eclodiram em 28/12 no Irã, desencadeadas pelo aumento de até 40% nos preços de ovos e frangos.

Ao mesmo tempo, os países emergentes capturaram 20 pontos percentuais do PIB dos países ricos nas duas últimas décadas. Trata-se de uma oportunidade extraordinária para o agro brasileiro, capaz de gerar grandes excedentes de commodities agroalimentares a preços competitivos.

Mas o Brasil ainda está paralisado pela crise doméstica, sem saber direito aonde que ir. Este deveria ser um ano não só de mudanças domésticas mas também de definição da agenda de inserção internacional que almejamos.

2. "Rupturas tecnológicas: o passado não garante o futuro"

O Brasil conseguiu liderar o mundo no desenvolvimento de tecnologias agropecuárias adaptadas às regiões tropicais do planeta, que geraram fortes ganhos de produtividade. Mas isso não garante que continuaremos à frente do mundo no futuro.

Novos paradigmas tecnológicos se multiplicam, mudando produtos e processos e reorganizando organizações e instituições: tecnologias digitais e de precisão, biotecnologia, sensores, robôs, drones, microirrigação, ambientes indoor, agricultura vertical, imagens de satélite, big data etc.

Um caso concreto é a chamada "uberização" da mecanização agrícola via provedores de serviços de cultivo e colheita. Ela explica, por exemplo, o incrível crescimento de 50% nas vendas de tratores nos últimos 12 meses na Índia. A nova revolução tecnológica da agricultura vem do setor privado e do mercado, e não do Estado, como no passado.

3. "A agropecuária é central, mas não é tudo"

Tão importante quanto produzir com eficiência no campo é processar, transportar, distribuir, abrir novos mercados no exterior, agregar marcas e criar reputação para produtos, empresas e o próprio país. Só que, infelizmente, temos perdido competitividade nos demais elos da cadeia produtiva e a nossa presença ainda é tímida e esporádica no exterior.

Novos temas envolvendo o agro de forma sistêmica ganham importância na agenda global.

Só para citar alguns: a) saúde e nutrição; b) sanidade, qualidade e rastreabilidade; c) perdas e desperdícios de alimentos; d) uso de defensivos, transgênicos, hormônios, antibióticos e questões ligadas ao bem-estar dos animais.

No exterior, esses são temas tão ou mais importantes do que a questão do equilíbrio entre a produção agropecuária e o ambiente, assunto que hoje recebe enorme atenção no Brasil. Ocorre que nossa participação na discussão dessas matérias é errática e frequentemente superficial, o que alimenta a difusão de inverdades e falsas acusações.

É fundamental melhor organizar nossas cadeias produtivas de ponta a ponta, incluindo a coordenação público-privada, para ocupar uma posição protagônica no debate global.

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