Marcos Augusto Gonçalves

Editor da Ilustríssima, formado em administração de empresas com mestrado em comunicação pela UFRJ. Foi editor de Opinião da Folha

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Marcos Augusto Gonçalves

O mercado financeiro comemorou a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com alta na Bolsa e queda no dólar. Tratava-se, antes de tudo, de uma oportunidade para movimentar o cassino e gerar lucros de ocasião.

É evidente que a chamada "nova matriz econômica", projeto que ganhou impulso no período da presidente Dilma Rousseff, não preenche as expectativas atuais da elite econômica. A tendência irresponsável a flexibilizar o equilíbrio das finanças públicas, o preconceito ideológico contra a livre iniciativa e a ceva "ad nauseum" do paquiderme estatal mostraram-se desastrosos no passado recente.

Por outro lado, é enganoso acreditar que o mundo das finanças e do empreendimento move-se por princípios ideológicos, embora possa tê-los. O objetivo é ganhar dinheiro –e ninguém deixaria de fazê-lo, por exemplo, num país como a China pelo fato de tratar-se de regime politico centralizado e capitalismo de Estado.

Tampouco —como a experiência brasileira demonstra— empresários e financistas horrorizam-se com a instrumentalização da máquina pública, desde que posta a serviço de seus interesses.

O primeiro mandato do presidente Lula foi um momento no qual um governo orientado para a ampliação de direitos sociais e para a inclusão de massas ao consumo encontrou forte adesão dos mercados —cujos representantes se derramavam em elogios ao pragmatismo do líder sindicalista alçado à Presidência.

Nas circunstâncias atuais, com o Brasil praticamente quebrado e as contas públicas no bagaço, um eventual retorno de Lula ao Planalto não poderia deixar de sinalizar o risco de reincidência em práticas danosas à já debilitada saúde econômica do país. Mais ainda quando a campanha pelo terceiro mandato, a esta altura fantasiosa, transcorre em ambiente contaminado pelo rancor e pelo revanchismo.

Se eleito, especula-se, Lula teria de pagar tributo à sua tropa ideológica e dificilmente escaparia de recosturar suas alianças com setores da oligarquia e do patrimonialismo —com quem se aconchegou quando no poder.

Mesmo assim, a hipótese do Lula-lá de novo poderia ser assimilável pela elite econômica, ainda que num arranjo constrangedor. O petista, não esqueçamos, insistiu com sua sucessora para que colocasse na Fazenda Henrique Meirelles, que fora seu indicado para o Banco Central.

O virtual afastamento do ex-presidente, na realidade, cria alguns problemas importantes e não resolve, por si, a vida do mercado. A questão não é apostar num candidato privatista puro sangue, mas identificar alguém que possa combinar genuíno apoio popular, capacidade de restituir a credibilidade do governo e bom senso econômico. Quem?

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