Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde é professor-adjunto de relações internacionais e políticas públicas. Escreve às quartas.
Erros que os Brics têm de evitar
O principal resultado da Cúpula dos Brics (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) na próxima semana em Fortaleza será o avanço no processo de construção institucional.
Isso se dará sobretudo com a formalização do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) e do Mecanismo Contingente de Reservas (CRA) para o enfrentamento de eventuais crises de liquidez.
É pouco? Talvez. Ao compararmos, porém, esses emergentes com o antigo G7, percebemos que os Brics irão mais longe.
O autointitulado "grupo das sete nações mais industrializadas" jamais foi além de encontros protocolares para discussão de questões econômicas internacionais.
Para que a institucionalização dos Brics tenha êxito, será fundamental evitar um duplo erro. O primeiro: pilotar o NDB com a bússola da retórica Sul-Sul. O segundo: paralisar-se ante a heterogeneidade dos Brics.
Cumpre não cair na tentação de dirigir o NDB como contraponto, e não complemento, a FMI e Banco Mundial.
Mesmo porque há pouco a opor e muito a acrescentar. As instituições de Bretton Woods estão defasadas em termos de governança. A eleição de seus chefes executivos é de um compadrio ridículo. Nesse condomínio extemporâneo, a Europa sempre elege o diretor-geral do Fundo e os EUA indicam o presidente do Banco Mundial.
Ambos estão desprovidos do capital necessário às respectivas funções de socorro financeiro ou apoio ao desenvolvimento. Reinventaram-se, é bem verdade, como "think-tanks", em que trabalha competente corpo técnico. São úteis como fonte de informação e análise. Já na condição de gestores do capitalismo global, FMI e Banco Mundial não passam de leões sem dente.
Fala-se das diferenças de cada um dos Brics. Entre eles há membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Rússia e China); detentores de armas nucleares (Rússia, Índia e China); enormes democracias representativas (Índia e Brasil); potências na exportação de commodities (Rússia e Brasil) e uma economia (China) 23 vezes maior do que a outra (África do Sul).
A experiência internacional mostra, contudo, que plena harmonia de interesses não é indispensável a projetos cooperativos. É bem o caso da União Europeia. Apesar dos sólidos avanços desde o Tratado de Roma, suas dezenas de membros ainda divergem em inúmeros temas políticos e econômicos dentro e fora da dinâmica de Bruxelas.
Uns não aderiram ao euro. Outros não querem aprofundar a integração com atuais sócios. Preferem a adesão de mais membros –optam, portanto, pela expansão "horizontal" e não "vertical" da agenda integracionista. Alguns (em especial a Alemanha) querem a reforma do Conselho de Segurança. Outros (França e Reino Unido), no limite, desejam que tudo fique igual.
Para os Brics, o essencial é que pontos onde há coincidência, como o financiamento do desenvolvimento e instrumentos mais modernos de governança, coexistam pragmaticamente com diferenças em peso econômico, agenda política e visão de mundo.
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