Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde é professor-adjunto de relações internacionais e políticas públicas. Escreve às quartas.
Além de Fazenda e Itamaraty
O lugar do Brasil no mundo foi para o centro do debate. À medida que se aproximam eleições presidenciais, nota-se que o tema da inserção externa do País -sua participação nos fluxos globais de poder e riqueza- deixou de ser apenas assunto para diplomatas, militares e círculos restritos do pensamento nacional.
Empresários, jornalistas, acadêmicos, sindicalistas, ongueiros -todos passaram a ter opinião mais ou menos bem fundada sobre alianças regionais, predileção pelo multilateralismo, parcerias comerciais, relações com EUA e Europa ou cooperação com países emergentes.
Nesse bem-vindo exercício, clara tendência salta aos olhos. Em diferentes modulações, a sociedade parece supor que nossa inserção global resulta sobretudo de duas variáveis: gestão macroeconômica e política externa.
É claro que bom manejo cotidiano de variáveis monetárias e fiscais é imprescindível. Não há dúvida de que defesa da moeda e credibilidade da autoridade econômica desanuviam preocupações e ajudam a construir horizontes de longo prazo.
Na mesma linha, a diplomacia é tanto mais eficaz se conduzida por profissionais investidos no interesse nacional, não em afinidades aparentadas ao ilusório contraste esquerda/direita ou Norte/Sul.
Nessa abordagem incompleta, entende-se que daríamos largada a uma nova inserção internacional com dois movimentos.
Por um lado, mudança de titulares na Fazenda e no Banco Central que trouxesse novos ares de confiança e competência técnica.
Por outro, rebocar o Itamaraty da atual condição coadjuvante para que se não se reproduzam os recentes tiros n'água -terceiro-mundismo, liderança regional autoatribuída, mediação do impasse nuclear no Irã, apego fundamentalista ao multilateralismo e tantos outros.
Readequações na política macroeconômica e na diplomacia não bastam, contudo, para o sucesso da inserção externa. Nosso êxito internacional só pode se dar com um modelo de "governança da estratégia" que responda de forma estruturada à nova trama global.
Nada de dirigismo -mas o Brasil carece da visão e coordenação necessárias na confluência das frentes industrial, comercial e tecnológica. Não relaciona reformas internas à melhoria de ambiente de negócios e à competitividade externa.
Resultado: padece para se atrelar às cadeias transnacionais de valor. Não tem ideia do que fazer ante esta "China 2.0" de grande escala econômica e sofisticada tecnologia. Arrasta-se na formação de elites para o campo do conhecimento e do empreendedorismo.
Nenhum dos desafios dessa "reglobalização" em que estamos ingressando compõe o cardápio de atribuições da dupla "Fazenda-Banco Central" ou do Itamaraty.
Apesar da hipertrofia burocrática, inexiste no organograma, na prática e no conteúdo do Estado brasileiro, instância que, em interação com a sociedade, formule e articule ações estratégicas.
Pena. Nossa inserção internacional é coisa séria demais para ser atribuída tão somente a macroeconomistas e diplomatas.
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