Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde é professor-adjunto de relações internacionais e políticas públicas. Escreve às quartas.
A parceria Brasil-Alemanha
Passou despercebida nesta semana mais uma edição do Encontro Econômico Brasil-Alemanha. Realizado em Hamburgo, o evento realça a mais tradicional e diversificada parceria que o Brasil mantém com países europeus.
A Alemanha é importante mercado para exportações brasileiras e uma das principais fontes de investimento produtivo no Brasil. É aqui onde os alemães fazem sua maior aposta empresarial na América Latina –além de destino número um de suas exportações à região.
O peso relativo de ambos em suas respectivas esferas de influência faz da interação Brasil-Alemanha um "intercâmbio entre protagonistas".
Esses encontros vão além da troca de perspectivas sobre a economia dos dois países e a situação global. São complementados pelas rodadas de encontros entre potenciais parceiros, os chamados "match-makings".
Para além da economia, ambos têm interesse comum na reforma do Conselho de Segurança da ONU e no estabelecimento de regime de direito à privacidade no âmbito digital.
O encontro deste ano foi marcado pelo compasso de espera. Dado o tamanho do governo na economia brasileira, braços são cruzados ante possíveis desdobramentos do quadro eleitoral.
Nos bastidores, os dois países discutiram como destravar o acordo de livre-comércio Mercosul-União Europeia, cuja negociação se arrasta desde 1999. Os entraves são marcados sobretudo pela resistência da Argentina e da França. Ambos catimbam na entrega das respectivas listas de ofertas de liberalização para que a negociação entre os dois blocos possa avançar.
Eventual mudança desse quadro só se daria caso o Brasil decidisse prosseguir sem a Argentina a seu lado. Esse cenário é tão somente possível com uma troca de governo no Brasil. As resistências da França são mais facilmente superáveis. A Alemanha pode exercer sua influência para que a parte europeia não retarde ainda mais o cronograma.
O acordo Mercosul-UE impactaria significativamente o intercâmbio Brasil e Alemanha. A depender do tipo de calendário que se estabeleça na versão final do tratado, o comércio poderia dobrar. Observaríamos efeito semelhante nos investimentos alemães no Brasil.
As principais dificuldades para incrementar o comércio bilateral estão do lado brasileiro. O país não conseguiu estruturar-se produtivamente para harmonizar suas capacidades internas de competir no campo global. Isso estabelece tetos mais baixos à possível entrada de produtos brasileiros de maior valor agregado no mercado alemão.
É grande o interesse alemão em investir na infraestrutura brasileira, sobretudo em portos e energias renováveis. Difícil identificar setores de nossa carente infraestrutura em que o investimento alemão não seja bem-vindo, mas os alemães querem clareza e perspectiva de longo prazo.
Mesmo grandes eventos como a Copa do Mundo e a Olimpíada têm atratividade limitada comparados à necessidade de regras do jogo estáveis. As eleições presidenciais de outubro no Brasil são chave para definir os rumos do investimento alemão na infraestrutura do país.
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