Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde é professor-adjunto de relações internacionais e políticas públicas. Escreve às quartas.
Combatendo o 'novo normal'
No rescaldo da grande crise financeira de 2008, economistas usaram letras para simbolizar qual seria a trajetória de recuperação da economia global.
Para os otimistas, o movimento se daria em "V". Após acentuada queda, expansão de mesma forma exuberante que caracterizou parte dos anos 90 e o ciclo dourado das commodities até a hecatombe do Lehman Brothers. Passado o dilúvio, "business as usual".
Para outros, mais realistas, o formato seria o "W". À Grande Recessão de 2008 seguiriam espasmos eufóricos sucedidos por novas contrações –como se levou a crer com a pronunciada crise das dívidas soberanas europeias em 2011, de que a Grécia foi paradigma.
Para os que torcem pelo malogro da economia de mercado, 2008 e sua posteridade marcavam um "Y".
Finanças globais abraçariam "setores reais" da economia num mergulho vertiginoso –o fim ao capitalismo como o conhecemos. Estaria aberto o caminho para projetos de economia e sociedade radicalmente alternativos, o que não se via desde o esfacelamento do socialismo real na década de 80.
Superada essa ou aquela ilusão, o olhar prevalecente que se lança agora sobre os últimos seis anos –perspectiva dominante a ponto de converter-se em clichê– é a de que a economia global encontra-se num "novo normal".
Sua forma é a de um "L": derrocada da expansão do PIB mundial até o ponto de estabilização num patamar medíocre. De agora em diante, os países devem resignar-se a operar numa "banda estreita" de crescimento que não permite grandes alterações de status econômico.
Países ricos, sem brilhantismo, continuarão com PIB per capita superior a US$ 35 mil. Emergentes verão congelada sua esperança de alcançar níveis de renda dos mais avançados. Nesse imobilismo da contribuição relativa que cada país oferece ao produto mundial residiria o "novo normal".
Essa narrativa, que dominou a reunião anual do FMI e do Banco Mundial no mês passado, é um baita convite à inércia. Oferece aos governantes a desculpa de que "há pouco a fazer". O fato é que a maioria dos países da OCDE –EUA e Reino Unido à parte–, continuam a se organizar de modo a que o welfare state leve à competitividade e inovação, não o contrário.
Latino-americanos, com recente exceção dos países da Aliança do Pacífico, pouco fizeram pela modernização institucional de sua economia política. A "anormal" arremetida chinesa nos últimos 15 anos ajudou a mascarar a falta de estratégia para um período "normal" de menor apetite global por commodities.
Interessante atentar para o debate que hoje se trava na China sobre o combate ao "novo normal". Os chineses enxergam que o risco de uma fase de menor crescimento global não é se vitimizar na "armadilha da renda média".
Perigo maior é atolar no que chamam de "armadilha latino-americana". Entendem pela expressão o combinado de populismo, urbanização caótica e, sobretudo, "voos de galinha" no crescimento econômico resultantes da ausência de reformas estruturais. Não parece familiar?
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