Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde é professor-adjunto de relações internacionais e políticas públicas. Escreve às quartas.
A dança Berlim-Brasília
Quando Angela Merkel visitar o Brasil, em agosto, o país passará a integrar as "Consultas Intergovernamentais de Alto Nível" que a Alemanha mantém com grandes potências, entre elas EUA e China.
Em meio ao deserto no qual se transformou a política externa dos anos Dilma, a elevação do patamar com Berlim não é desprezível. O Brasil será o primeiro latino-americano a integrar esse grupo.
Seu impacto sobre comércio e investimentos, no entanto, é pouco relevante. Um aumento significativo do intercâmbio econômico depende de algo mais do que a dança diplomática Berlim-Brasília.
Ele só ocorrerá com melhoria do horizonte econômico brasileiro, a facilitação do ambiente de negócios em setores como a indústria automobilística ou mesmo mais clareza no regime de concessões. Todos esses fatores dependem mais unicamente do Brasil do que da dinâmica das relações bilaterais.
A grande joia da coroa no relacionamento com a Alemanha reside na assimilação da tecnologia germânica e na excelência dos princípios e da prática alemã de governança corporativa.
Nesse aspecto, a Alemanha tem muito a contribuir para a melhoria do grau de "institucionalização" da economia brasileira. Bom ressaltar que isso também é função da perspectiva de obtenção de lucro por parte das empresas alemãs, e não apenas do arranjo burocrático entre Chancelarias.
Há muitas amarras impostas pelas regras da União Europeia e do Mercosul para que, individualmente, Alemanha e Brasil possam explorar o potencial do relacionamento bilateral. Isso torna imprescindível o acordo entre os dois agrupamentos, a não ser que Alemanha ou Brasil decidissem romper com a lógica negociadora a partir do bloco em que se inserem.
Isso é impensável para a Alemanha, país que mais tem a perder com um eventual malogro da UE. Tampouco deve se esperar maior independência negociadora por parte do Brasil em relação ao Mercosul, o que o limita em negociações que permitiriam ao país maior participação nas cadeias globais de valor.
Acumulamos no ano passado um déficit de US$ 7 bilhões em nosso comércio com a Alemanha. Assim, o Brasil quer aumentar suas exportações de maior valor agregado. Mais fácil falar do que fazer.
Para isso seria necessária vigorosa intensificação dos esforços de promoção comercial -o que é difícil imaginar perante as atuais restrições orçamentárias que se impõem ao Itamaraty.
A torcida, então, é pela conclusão, neste ano, do acordo UE-Mercosul, cujas negociações foram lançadas no longínquo ano de 1999.
Isso vai depender de quão rapidamente a Europa possa ceder espaço em sua política agrícola comum (PAC) e em que medida Bruxelas considerará satisfatória a proposta de maior abertura dos setores industriais do Mercosul.
As economias do Cone Sul estão subperformando, com possível recessão para seus dois maiores integrantes -Brasil e Argentina. E a Europa é hoje a região do mundo que menos cresce. Nesse contexto, a conclusão do longo processo negociador seria uma ótima notícia.
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