Foi repórter e editora-adjunta de "Esporte". Cobriu a Olimpíada de Pequim-2008 e de Londres-2012, os Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 e Guadalajara-2011.
Delações premiadas
Só atletas limpos devem disputar os Jogos Olímpicos do Rio. A frase emblemática resume a decisão da Federação Internacional de Levantamento de Peso. Rússia, Belarus e Cazaquistão, potências mundiais, estão suspensos por um ano de todos os eventos internacionais da modalidade, incluindo a Olimpíada de agosto.
E a trapaça nem foi cometida agora. Os países foram punidos porque apresentaram três ou mais testes positivos para doping nas análises de amostras guardadas dos Jogos de Pequim, em 2008, e de Londres, em 2012. A lista inclui campeões mundiais e olímpicos. Vão pagar agora por erros do passado.
Mais desfalques importantes para o evento carioca, novamente por causa do doping.
Na semana passada, foi confirmada a punição à equipe russa de atletismo, implicada em um dos maiores escândalos de doping da história, que envolvia até o governo local. Está fora dos Jogos do Rio.
Um escândalo que só veio à tona graças a dois envolvidos dispostos a falar e um jornalista ávido por investigar. As denúncias eram tão graves, e as evidências, tão fortes, que obrigaram a federação internacional de atletismo a agir e escancarar o esquema de fraude.
Dois casos que mostram o quanto ainda é difícil vencer essa luta contra o doping.
O levantamento de peso é obrigado hoje a rever uma série de resultados do passado. Campeões perdem suas medalhas, títulos ficam sob suspeita. A Rússia manipulou uma série de testes e ainda é suspeita de fraudes no antidoping dos Jogos de Inverno de Sochi-2014. Logo mais, novos campeões devem ser destronados.
Os casos não param por aí. A China está com a sua equipe de natação na mira das autoridades e quenianos e jamaicanos ainda não convenceram que possuem um esquema sério e eficiente de controle antidoping no atletismo. São países com resultados expressivos, dominantes. O potencial para novos escândalos é enorme.
O que parece diferente nessa cruzada de agora é a abordagem de quem combate a trapaça. Fazer apenas testes durante ou fora das competições não é mais suficiente. Há drogas que ainda não são detectáveis, assim como existem esquemas para burlar os exames, que conseguem identificar e coibir apenas uma pequena parte do uso de substâncias proibidas.
O caminho mais eficiente neste momento parece ser o da investigação, colher denúncias, transformar o doping em caso de polícia e desmantelar esquemas. O ciclista Lance Armstrong, maior vencedor da história da Volta da França, foi punido sem jamais ter testado positivo. Delações mostraram o que ele fazia para vencer. O atletismo russo caiu porque seu processo fraudulento de controle de dopagem foi desmascarado.
Paralelamente a isso, as punições devem ficar mais duras. Sem medo de quem será atingido. A tenista Maria Sharapova, o mais midiático nome do tênis feminino, não virá aos Jogos e ficará fora das quadras por dois anos —e ela diz que apenas esqueceu de olhar se um medicamento que usava havia entrado na lista de substâncias proibidas. Sem a Rússia, a Olimpíada perde apelo e o atletismo ganha uma mancha para sempre.
Punições exemplares deveriam servir de exemplo por aqui também.
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