Mariana Lajolo

Foi repórter e editora-adjunta de "Esporte". Cobriu a Olimpíada de Pequim-2008 e de Londres-2012, os Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 e Guadalajara-2011.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Judocas refugiados do Congo contam com apoio de um técnico do Brasil

Seis medalhas olímpicas. Duas delas de ouro. Geraldo Bernardes já estava acostumado a desafios e acreditava já ter vivido suas principais conquistas. Até o dia em que seu ex-pupilo Flávio Canto, a quem carinhosamente chama de filho, sem ter ainda noção exata do alcance de seu gesto, fez a família aumentar.

De repente, tinha em seu tatame dois judocas do Congo, refugiados, que queriam se reencontrar com o judô enquanto ainda estavam sem rumo.

Yolande Mabika e Popole Misenga foram abandonados pelos cartolas de seu país quando vieram disputar o Mundial de 2013. Passaram fome, viveram na rua. Continuidade do sofrimento da terra natal. Ainda pequenos, fugiram de suas vilas por conta das invasões de rebeldes.

O esporte que os ajudou lá. Como ajudou aqui. Bernardes foi um instrumento. Conta que, ao chegarem, os congoleses precisavam de socorro. "Estavam desnorteados". Enquanto ajudava com comida, auxílio para transporte e ombro amigo, os reaproximou do judô.

A história podia parar por aí. Mas ganhou contornos de conto de fadas quando o Comitê Olímpico Internacional decidiu criar uma equipe de refugiados para disputar os Jogos do Rio.

No momento em que a questão mobiliza o mundo, com fechamento de fronteiras, xenofobismo, terrorismo, o movimento do COI é um gesto simbólico importante. Como diz Bernardes, lembra que refugiados "são gente".

Para os dez atletas que irão entrar no Engenhão sob a bandeira olímpica, é uma experiência única. Bernardes, no entanto, não ficou satisfeito só com o símbolo. O homem que ajudou a forjar medalhistas olímpicos queria levar atletas aos Jogos.

Yolande e Popole passaram a receber ajuda do COB e do COI, e o treinador montou um programa de treinos que incluía até períodos de trabalho com a seleção brasileira. Popole deu golpes em Tiago Camilo. O treinador ainda criou campeonatos internos no Instituto Reação para dar ritmo de luta aos pupilos. "Sou muito competitivo, quero uma medalha", diz Bernardes.

A medalha não virá. Mas isso pouco importa. A ajuda que tiveram e a experiência que terão já é uma medalha. Todos da equipe não cansam de repetir nas dezenas de entrevistas: irão competir pelos refugiados do mundo.

Bernardes já disse que suas portas estão abertas para mais refugiados que precisem de ajuda, atenção e golpes de judô.

No dia 10, estará ao lado do dojô para orientar novamente um atleta olímpico. Diz que espera apenas agora que em seu coração, que foi grande para receber os dois novos filhos, haja espaço para a emoção de vê-los disputar a Olimpíada.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.