Não havia nome melhor para conquistar a primeira medalha de ouro para o Brasil nos Jogos do Rio. Rafaela Silva. Mulher, negra, favelada, que não leva desaforo para casa e não tem medo de mostrar que não é um bibelô perfeito para ser exibido por aí.
Rafaela é o ouro para o atleta real.
O tipo de atleta que quem manda no esporte brasileiro tem dificuldade de aceitar e acolher.
Já ouvi cartola dizer com orgulho que determinada atleta tinha de receber toda a atenção porque havia sido criada "à base de danoninho". Ela branca, bonita, sem polêmicas e nunca reclamava.
Já vi calendários serem mudados para colocar "o medalhista certo" no primeiro dia em que o Brasil podia ir ao pódio. O mais vendável, mais palatável.
É a cultura da imagem em detrimento do desempenho esportivo.
Rafaela é o ouro dos moradores da favela apartados da Olimpíada padrão Barra da Tijuca. Que não têm dinheiro para comprar o ingresso nem verão os benefícios do legado olímpico transformar suas vidas.
Rafaela é o ouro de tantas pessoas ou instituições que tentam driblar os problemas e as sacanagens que envolvem quem investe no esporte.
Ela se formou numa ONG que ajuda os moradores da favela e usarem o esporte como ferramenta para transformar suas vidas. A mesma ONG que abrigou dois judocas refugiados. Deu comida, treino e auto-estima de volta. E hoje eles podem sonhar ser Rafaela também.
Na tarde de segunda, Rafaela finalmente teve sua redenção. Quis a vida que a brasileira encarasse sua mesma algoz de Londres. Para recomeçar de onde parou.
A mulher, negra e favelada que foi maltratada e desprezada em 2012 por ser mulher, negra e favelada agora tem uma medalha de ouro. A primeira do Brasil em sua primeira Olimpíada em casa.
Ninguém vai esquecer.
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