Trabalhou na "Tribuna da Imprensa", em "O Globo" e "O Estado de S. Paulo" antes de ingressar na Folha, em 1991. Passou pelo agora extinto "Folhateen", foi colunista de "Esporte", repórter especial e ombudsman por um ano.
Sua Excelência, o leitor
Quem acompanha os diários impressos de prestígio, os telejornais de qualidade, os bons serviços noticiosos on-line e as rádios dedicadas ao jornalismo já se habituou ao esforço para assegurar a manifestação dos que são criticados e acusados. É o chamado "outro lado".
As publicações transparentes identificam a empresa que pagou as viagens de "enviados especiais" que não foram bancadas por elas.
Nas Redações que abrigam a ética, não se admite que um profissional trabalhe parte do dia para o jornal e parte para instituição objeto de atenção jornalística. É um conflito de interesses inaceitável.
Se houve erro, corrige-se a informação. As páginas de opinião, ao contrário dos encardidos palanques de pensamento único, confrontam convicções antagônicas.
Até poucas décadas atrás não era assim. Numerosos valores e procedimentos que hoje são caros a uma parcela do jornalismo brasileiro foram introduzidos ou estimulados pela Folha, a partir de meados da década de 1970.
No domingo morreu o condutor e fiador dessas mudanças, o publisher Octavio Frias de Oliveira. De olho no futuro, o maior desafio do jornal é renovar um contrato simbólico que certa vez lhe permitiu veicular o slogan "de rabo preso com o leitor".
A Folha começou mal a era sem "seu Frias", como era conhecido o publisher. Nos dias seguintes à sua morte, personalidades dominaram o "Painel do Leitor", que não abriu exceção aos "leitores comuns", causa e fortuna das empreitadas jornalísticas de sucesso.
Aos "vips", reservaram-se colunas para as condolências. As mensagens de "anônimos" não foram contempladas, pelo menos até a sexta-feira. "Sua Excelência, o leitor" -expressão cunhada e cultivada por Frias- foi excluída de um espaço que deve ser seu.
O foco no leitor foi uma transformação essencial da Folha há três décadas. Não cabia ao jornal decretar a verdade, mas servir como tribuna plural para que os leitores formassem juízo.
O Projeto Folha, anunciado em 1984, radicalizou a orientação. Ao inventariar erros de informação, português e padronização, criou um saudável controle de qualidade, similar ao de empresas de ramos alheios ao jornalismo.
Em 1989, a Folha foi pioneira no país com a criação do cargo de ombudsman. Talvez não haja diário nacional que se corrija (menos que o necessário) e se critique tanto.
A plataforma que preconiza um jornalismo crítico, pluralista e apartidário explica por que o jornal investigou tanto o governo Fernando Henrique Cardoso (é seu o "furo" sobre a compra de votos para a emenda da reeleição) como o governo Lula (a entrevista de Roberto Jefferson sobre o mensalão saiu na Folha).
Em seus maus momentos, contudo, a Folha dá a impressão de que se esquece das necessidades reais de quem a lê. Um antídoto para isso seria reavivar a, mais que uma boa tirada, profissão de fé de Octavio Frias: o jornal é feito para "Sua Excelência, o leitor".
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