Trabalhou na "Tribuna da Imprensa", em "O Globo" e "O Estado de S. Paulo" antes de ingressar na Folha, em 1991. Passou pelo agora extinto "Folhateen", foi colunista de "Esporte", repórter especial e ombudsman por um ano.
Neutro? Só pH
Quem acredita em neutralidade jornalística deveria reparar na valiosa e involuntária contribuição da Folha para exterminar tal crença.
No dia 25 de novembro, o jornal apresentou em Mundo um estudo que monitorou TVs e rádios da Venezuela na campanha do referendo sobre mudanças constitucionais.
Seis dias depois, Brasil reeditou por engano o mesmo texto em parte dos exemplares. A investigação acadêmica confirmou que o noticiário é parcial, porém menos que em pleitos anteriores.
Mundo titulou com tons sombrios: "Mídia venezuelana cobre mal referendo". Brasil iluminou o progresso: "Cobertura do referendo está mais imparcial, revela estudo".
A partir da mesma matéria-prima, o jornal ofereceu duas sínteses, ambas corretas: a depender da página, o conteúdo era positivo ou negativo. Isso ocorreu porque neutralidade e objetividade jornalísticas são entidades de ficção.
O "Manual da Redação" da Folha ensina: "Não existe objetividade em jornalismo. Ao escolher um assunto, redigir um texto e editá-lo, o jornalista toma decisões em larga medida subjetivas, influenciadas por suas posições pessoais, hábitos e emoções".
Acrescento: cultura, idiossincrasias e opiniões das organizações jornalísticas também impactam as opções.
Ainda assim, na mesma Redação, conheceram-se interpretações opostas. Uma considerou que deveria destacar a essência da reportagem -a cobertura é partidária; outra, a novidade: há evolução.
O leitor que alcançou o ponto final recebeu o conjunto de informações para formar seu próprio juízo. O que só passou os olhos pelo alto foi influenciado com vigor pelo intermediário -o autor do título.
Mesmo sem existir quimicamente pura, a objetividade é uma qualidade que se deve perseguir, notadamente em alguns gêneros do jornalismo -não é função de reportagem "fazer cabeças", mas informar. O guia ético do "New York Times" recomenda ser tão imparcial "quanto possível".
Cobrado pela distorção que a paixão pelo Botafogo causaria em seus comentários, João Saldanha retrucava: "Ninguém é filho de chocadeira; todo mundo tem opinião".
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