Trabalhou na "Tribuna da Imprensa", em "O Globo" e "O Estado de S. Paulo" antes de ingressar na Folha, em 1991. Passou pelo agora extinto "Folhateen", foi colunista de "Esporte", repórter especial e ombudsman por um ano.
A volta da Guerra Fria
Com dois adjetivos bem sacados, a colunista Eliane Cantanhêde comentou na quinta-feira a "Guerra Fria extemporânea e levemente ridícula da América Latina". Emendei na crítica diária que escrevo sobre o jornal: "No jornalismo das Américas, o tom de Guerra Fria não é levemente ridículo, e sim absolutamente ridículo".
A crise sul-americana, aberta com a invasão do território equatoriano por militares colombianos para matar militantes das Farc, expôs partidarismo jornalístico cuja sobrevida o bom senso condena.
A Folha não me pareceu superior na cobertura exclusivamente por deslocar mais repórteres, quatro, aos países que concentram o conflito -a Venezuela é o terceiro-, mas porque sua abordagem foi mais plural, tanto no noticiário como nas visões divergentes de colunistas e articulistas.
Com pensamento único, perdem os leitores, que têm mais elementos para formar juízo se conhecem versões e opiniões que se opõem.
Não que o jornal não erre. Nos últimos meses, acumularam-se referências na imprensa mundial, a Folha incluída, à "escalada armamentista" da Venezuela.
Agora, descubro que as tropas e os equipamentos militares de Hugo Chávez nem de longe se assemelham aos de Álvaro Uribe. Há lógica: a Colômbia combate organizações armadas em seu território. Mas, antes da crise, a impressão era que, no fogo, ninguém podia com os venezuelanos.
A Folha titulou "Chávez agora diz querer "paz verdadeira'". Por que agora? Antes queria uma paz falsa? Não entendi. O bom trabalho dos enviados não ocultou deficiência: nos primeiros dias, não se mostrou em Bogotá a rejeição da esmagadora maioria do povo às Farc, dos mais direitistas aos mais esquerdistas.
Não é à toa: como simpatizar com um grupo que seqüestra bebês, em crime idêntico ao cometido pela última ditadura militar argentina?
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