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marion strecker

 

01/04/2013 - 03h30

Traição

DE SÃO PAULO

Acordei com um e-mail do Gerald Thomas: "Oi, meu amor, fico recebendo coisas do tipo: Marion te adicionou ao TWOO ou algo assim. O que vem a ser isso? Love, J".

O Gerald, um internauta veterano, resolveu perguntar antes de sair clicando no link que recebeu por e-mail. Fez bem.

Alpino

Embora o e-mail tivesse até uma foto minha, não fui eu que mandei.

Quem mandou foi um site maligno que funciona em 37 idiomas e inferniza o público disparando e-mails a torto e a direito. Ele se aproveita dos contatos do seu computador e do seu Facebook.

O site pertence à empresa belga Massive Media e diz atrair 9,6 milhões de pessoas por mês, citando dados da comScore de novembro do ano passado.

Essa atração é feita com base em traição, o que não chega a ser novidade na internet.

O principal executivo do Twoo, Lorenz Bogaert, prometeu corrigir o "mal-entendido" quando foi questionado. Mas o problema persiste.

Mal tinha respondido ao e-mail do Gerald, recebo um outro com logotipo do Serasa. Trazia um aviso eletrônico de multa do Detran em meu nome e link para um boleto.

Estranhei. Daí me ocorreu pousar o cursor sobre o link enviado para observar a URL que aparecia (aquele endereço eletrônico de um site). Pronto: o endereço não era derivado da família de endereços do Serasa (www.serasa.com.br ou www.serasaexperian.com.br). Apaguei.

Há muitos anos não passo uma semana sem receber e-mails maliciosos, em nome de bancos, empresas ou pessoas, conhecidas ou desconhecidas, com pedidos ou convites, anexos ou links que nada mais são do que armadilhas.

Segundo a multinacional de segurança Websense, baseada em San Diego, Califórnia, apenas o envio de links maliciosos cresceu 600% no último ano. Do total de e-mails em circulação, apenas 21,6% eram legítimos, sendo 76,4% deles spams (e-mails não solicitados), 1,6% phishing (tentativa de recolher nome de usuário, senha ou dados de cartão de crédito) e 0,6% malware (software malicioso).

Como sair ileso? Abrindo mão da curiosidade. Desconfiando de tudo e de todos, especialmente de mensagens que não sejam evidentemente apenas para você. Checando endereços antes de clicar em um link. Não abrindo nenhum anexo a não ser aquele que você já estava esperando. Evitando aplicativos de um modo geral, a não ser que sejam muito bem recomendados.

Vale fazer tudo isso? Não sei.

Fiquei pensando nos jovens que em vez de e-mail usam celular e redes sociais. Lembrei que spam, links maliciosos e softwares maliciosos já aparecem também em celular e redes sociais.

Fiquei matutando sobre quanto tempo e dinheiro gastamos para driblar as arapucas da internet. Pensei no mote que parece ser: "Crie problemas e venda soluções". Ou: "Crie pânico e venda tranquilidade".

Lembrei da arquitetura da violência. Moro num condomínio que se enche de grades e câmeras de segurança enquanto adolescentes são roubados e mortos na calçada da frente. Pensei que as estatísticas servem para explorar o medo e comercializar produtos. Não exatamente para melhorar serviços ou a qualidade de vida das pessoas.

marion strecker

Marion Strecker é jornalista e cofundadora do UOL. Começou sua carreira como professora de música e coeditora da revista Arte em São Paulo. É formada em comunicação social pela PUC-SP. Trabalhou na Redação da Folha entre 1984 e 1996, onde foi redatora, crítica de arte, editora da 'Ilustrada', editora de suplementos, coordenadora de planejamento, coordenadora de reportagens especiais, repórter especial, diretora do Banco de Dados, diretora da Agência Folha e coautora do Manual da Redação. É colunista da Folha desde 2010. Pioneira na internet no Brasil, liderou a equipe que criou a FolhaWeb em julho de 1995 e foi diretora de conteúdo do UOL de 1996 a 2011. Viveu em San Francisco, Califórnia, de julho de 2011 a julho de 2012, atuando como correspondente do portal. Mudou-se para Nova York, onde começou a escrever um livro sobre internet, previsto para sair pela Editora Record. Atualmente vive em São Paulo.

 

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