É senadora e ex-prefeita de São Paulo. Foi ministra dos governos Luiz Inácio Lula da Silva (Turismo) e Dilma Rousseff (Cultura).
Waldik e Italo
Como paulistana e ex-prefeita, fiquei arrasada com o assassinato de duas crianças, ocorridos em nossa cidade. O descaminho do "risonho e brincalhão" Waldik, assim descrito pela mãe até um ano atrás, quando passou a andar com "más companhias", terminou tragicamente.
Família pobre, de nove filhos, não sabia mais o que fazer com Waldik, que era incontrolável e não ficava na escola.
Italo, aos dez anos de idade, vivia na favela e na rua. O pai está preso. No período em que a mãe esteve presa, fugiu duas vezes de abrigo.
A situação de desamparo familiar e escolar ganha visibilidade quando tragédias como essas vêm à tona. Creio que o suporte material para famílias extremamente carentes é essencial, mas não dá conta do problema.
Numa cidade, cabe garantir um rendimento mínimo para a família não padecer de fome e desespero, mas, principalmente, ter escolas com excelência e que cumpram, também, um forte papel social.
Os CEUs foram pensados exatamente para fazer esse papel: apresentar àquela criança outro mundo estético e de conforto, uma janela de oportunidades frente ao nem sonhado (no teatro, no cinema, na aprendizagem de música, em workshops e no esporte) e abrir possibilidades antes não desfrutáveis. A família, junto.
As atividades dos CEUs estão, hoje, bem aquém do que deveriam ser. O desafio atual, além de recuperar o conceito original e ampliar o seu número no que for possível, deve ser avançar na integração da educação com esporte e cultura, para todas as escolas, por meio de convênios ou reformas de centros esportivos da prefeitura.
Entretanto, a tarefa maior é ajudar o professor a exercer sua função com mais qualificação e apoio.
É difícil ensinar classes com 35 alunos. Não sobra tempo nem olhar para os Waldiks e Italos, que poderiam ter outra acolhida e destino.
Quanto à Guarda, dói.
Em número de 6.000, igual ao que deixei na prefeitura, sobrevive com o mesmo equipamento daquela época, a não ser alguns coletes novos. Exercem funções que não são as suas, como multar (vi dois na ponte do Limão esta semana, com radar manual), ou ajudando no rapa, ou no programa de redução de danos do crack na cracolândia dois dias e nos seguintes numa creche... Ações totalmente desorganizadas e afastadas da função principal, que é vigiar as nossas escolas e não permitir que bandidos e traficantes se aproximem de nossas crianças — dos abandonados inúmeros Waldiks e Italos que, na sua juventude, são presas fáceis.
A Guarda pode e deve voltar ao seu papel comunitário, aquele que identifica o jovem que está sendo problema, o que conversa com a escola e com a polícia. E, longe dela, atuar como tal.
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